Que pena que os hatches médios estão sendo engolidos pelos SUVs. De acordo com os números da Fenabrave (Federação dos Distribuidores de Veículos), atualmente representam apenas 1,2% do mercado pelo acumulado os primeiros cinco meses do ano. Para quem gosta de dirigir, modelos como o Ford Focus SE 2.0 Powershift que avaliamos são um prato cheio. O problema é que o carro tem preço sugerido de R$ 95.900 e, por esse valor, muita gente passou a pensar que dá para levar para casa um utilitário esportivo compacto mais espaçoso e enfrenta com desenvoltura o piso mal conservado da maioria das vias do nosso Brasil.
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Aos que ainda resistem à tentação dos SUVs, o Ford Focus SE Plus tem o conjunto bem acertado e a boa lista de equipamentos de série entre as principais qualidades. O motor é 2.0, com injeção direta, de 178 cv, que funciona com câmbio de dupla embreagem e hastes para trocas sequenciais no volante. Há também controles eletrônicos de estabilidade e tração, assistente de partida em rampas, controle de torque em curvas, multimídia de última geração com tela de 8 polegadas sensível ao toque, som com 4 alto-falantes e dois tweeters, câmera de ré, bancos de couro, espelho interno eletricrômico, entre outros itens. Faltou apenas uma luz de cortesia melhor. A única que existe fica meio escondida no meio do teto. Não ilumina tão bem e para quem está sentado em um dos bancos da frente é preciso fazer uma certa ginástica para alcançar o botão de acionamento.
Fácil de se empolgar ao volante
Além de bem equipado, o hatch se sai bem numa tocada mais animada. Há quem desconfie do polêmico câmbio Powershift, que chegou a apresentar problemas em algumas unidades, mas a Ford fez alguns ajustes e, pelo menos na unidade avaliada, a caixa funcionou bem, tanto no modo automático quanto no sequencial, com trocas rápidas de precisas, inclusive nas reduções. A boa rigidez torcional do carro e o ajuste da suspensão também contribuem com a boa estabilidade nas curvas. O que também ajuda é o conjunto de rodas de aro 17 montados em pneus 215/50R 17 (Michelin Primacy 3). Apesar disso, o carro não consegue absorver tão bem as irregularidades do piso, já que o ajuste é um pouco mais voltado à esportividade do que ao conforto, embora não cause solavancos demais.
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Pise no acelerador e o Focus parte com disposição, sem hesitar, ajudado pelo câmbio automatizado, de dupla embreagem, que dá mais agilidade do que um convencional, com conversor de torque. Mas é preciso manter o 2.0 a partir dos 3.500 rpm se precisar de respostas rápidas, uma vez que o torque máximo de 22,5 kgfm aparece em altos 4.500 rpm, próximo da rotação de potência máxima (6.500 rpm). E mesmo com o ponteiro do contagiros ganhando altitude o nível de ruído se mantém sempre baixo, mérito do bom isolamento acústico do carro. Em contrapartida, o consumo não é dos melhores. Com apenas etanol no tanque, faz 6,7 km/l na cidade e 9,2 km/l na estrada, de acordo com o Inmetro, números que passam para 9,7 km/l e 13 km/l, respectivamente.
O que também agrada no Focus SE Plus 2.0 é a direção comunicativa, que transmite sempre o que se passa entre os pneus e o piso e funciona com volante de boa empunhadura, revestido de couro e multifuncional. Ponto positivo também para a posição de dirigir, bem ajustada pelas regulagens do banco do motorista, com bons apoios laterais para segurar o corpo nas curvas, e do volante, também com profundidade ajustável. A visbilidade também é elogiável, inclusive pelo ângulo de visão dos retrovisores, que poderiam ser rebatíveis eletricamente, como acontece em vários modelos, até de segmentos inferiores.
Vida a bordo e a conclusão
De fato, o espaço interno do Focus hatch não está entre os pontos fortes do carro, principalmente para quem for sentado no banco traseiro. O túnel central da estrutura, um tanto alto, também atrapalha na acomodação do passageiro do centro. Além disso, basta inclinar um pouco o encosto do banco dianteiro para incomodar passageiro logo atrás. O que também faz falta é o porta-malas apertado para um modelo médio. São 316 litros, o que é quase o mesmo volume de compactos como o Hyundai HB20 e o Fiat Argo.
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Bom de dirigir e bem equipado, o Focus SE 2.0 é para quem não faz questão de bom espaço interno, mas de um carro prazeroso de dirigir, mesmo que isso acabe custando o mesmo que um SUV compacto, tão em alta hoje em dia no mercado, mas que não tem o bom comportamento dinâmico em qualquer situação, inclusive em trechos sinuosos, cheios de curvas debaixo de chuva e piso escorregadio. Entretanto, é bom lembrar que o modelo da Ford está prestes a mudar de geração na Europa, em 2018, e que deve chegar ao Brasil logo em seguida.
Por outro lado, na comparação com os principais rivais, o Ford Focus SE Plus é um pouco mais em conta. O Volkswagen Golf Highline 1.4 TSI automático tem preço sugerido que parte de R$ 107.600, destacando-se por ter conjunto mecânico mais eficiente, equilibrando um pouco melhor a relação entre consumo e desempenho. E o Chevrolet Cruze Sport6 LTZ sai a partir de R$ 103.900 com uma pegada parecida com a do Golf e com uma lista de equipamentos bem interessante, que inclui até teto-solar elétrico.
Ficha técnica
Preço: a partir de R$ 95.900
Motor: 2.0, quatro cilindros, flex
Potência: 178 cv a 6.500 rpm
Torque: 22,5 kgfm a 4.500 rpm
Transmissão: Automatizado, seis marchas, tração dianteira
Suspensão:Independente (dianteira e traseira)
Freios: Discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira
Pneus: 215/50 R17
Dimensões: 4,36 m (comprimento) / 1,82 m (largura) / 1,47 m (altura), 2,65 m (entre-eixos)
Tanque : 55 litros
Porta-malas: 316 litros
Consumo: 9,7 km/l (cidade) /13 km/l (estrada) com gasolina
0 a 100 km/h: 9,2 segundos
Vel. Max: 206 km/h