O livro ‘The Righteous Mind’ (ou A Mente Coesa, em português) sugere que seres humanos tomam decisões apenas pelo lado emocional para, então, buscar uma explicação racional e fundamentada sobre tal escolha. De acordo com o autor, o psicólogo Jonathan Haidt, este comportamento é uma herança da época em que éramos caçadores-coletores nos tempos das cavernas; mas ainda podemos sentir seus vestígios.
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Eis um bom exemplo disso. Por mais que soltasse uma exclamação a cada buraco que os pneus de perfil baixo da Audi A4 Avant atingissem, mantinha na cabeça que jamais teria um SUV . Afinal, #savethewagons , com diz a campanha lançada pela imprensa automotiva e entusiastas em todo o mundo.
A bela perua alemã é eurocêntrica, estilosa e tem um charme que nenhum SUV será capaz de reproduzir. Ao longo dos cinco dias que esteve em nossa garagem, as pessoas elogiavam o visual chamativo, elegante e incomum que só uma “ station wagon ” pode proporcionar.
Espécie em extinção
Pense que você é (e talvez seja) um dono de Creta, Renegade ou HR-V. Até o início de 2018, ainda poderia comprar um Volkswagen Golf Variant pelo mesmo preço dos SUVs. Ela foi limada do catálogo, e ficamos apenas com a antiquíssima Fiat Palio Weekend e os modelos premium tradicionais como A4 Avant (a partir de R$ 219.990) e Volvo V60 (R$ 210.990). Basicamente, perua voltou a ser carro de rico - e o problema é que eles também preferem os SUVs.
O Audi Q5 (a partir de R$ 199.990) teve um de seus melhores anos em 2019, emplacando quase 2 mil unidades no acumulado. Em compensação, 325 lunáticos compraram a A4 Avant - sendo que 73 eram da linha RS4, conforme os dados da Fenabrave.
Sublimação
Apesar do ar-condicionado digital de três zonas, cluster digital e a central multimídia com conectividades para Apple CarPlay e Android Auto, o projeto do A4 como um todo já parece levemente saturado. Lançada na Europa em 2016, a geração atual pegou exatamente o “ponto de transição” de tecnologia da marca das quatro argolas.
Isso implica em um veículo com central multimídia de tela flutuante (arranjo semelhante ao do antigo Q3) num cenário em que todos os outros Audi já contam com o sistema incorporado ao painel. Para piorar, ela não é touch , e precisa ser comandada por um joystick localizado à frente da manopla de câmbio. Na comparação com o kit de mídia apresentado no novo Audi Q3, a interface parece ainda mais antiquada.
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A A4 Avant S-Line também deve alguns atributos que poderiam deixá-la, digamos, mais premium. Há controle de lombar para o passageiro dianteiro, mas os ajustes do banco ainda são manuais. Além disso, não há carregador de celular por indução..
Für die Familie
Há espaço suficiente para cinco pessoas se acomodarem com conforto, ainda que o meio do banco traseiro não seja tão confortável quanto as extremidades. No pacote de segurança, traz seis airbags (frontais, laterais e cortina), indicador de fadiga e faróis com regulagem de altura. Na versão S-Line, controle de cruzeiro adaptativo, alerta de mudança de faixa e sistema de frenagem de emergência são opcionais.
Ao volante, outra característica que pode agradar os resistentes aos SUVs é a atmosfera esportiva. O “ponto H” do banco do motorista é baixo, deixando-o mais próximo do centro de gravidade do carro. Quando aliado ao volante multifuncional com ajustes de altura e profundidade, facilita bastante na hora de encontrar a melhor posição para dirigir.
Rodando em asfalto de boa qualidade, a A4 parece o tapete do Aladdin. A suspensão independente tanto na dianteira quanto na traseira assegura muita estabilidade para curvas mais ousadas, porém, acaba sendo um tanto quanto rígida para ruas esburacadas. Neste sentido, a ótima Volvo V60 é capaz de aliviar os impactos com mais sutileza.
São 190 cv de potência e 32,6 kgfm de torque, direcionados às rodas dianteiras pelo câmbio automatizado de sete velocidades. Apesar dos 1.460 kg (apenas 5 kg a menos que o sedã), o motor 2.0 proporciona força suficiente para que a perua atinja 100 km/h em apenas 7,6 segundos.
Este câmbio, aliás, é um dos grandes destaques da A4. Ele alterna muito bem entre os modos de condução disponíveis, mudando o tempo das trocas de marcha conforme a preferência do motorista. Com o modo “efficiency” em ação, obtivemos a boa marca de 14 km/h na estrada no computador de bordo - número superior à marcação de 13,4 km/l do Inmetro.
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Em 2020, a A4 Avant deverá manter a média de 25 veículos emplacados por mês. As charmosas “station wagon” respiram por aparelhos no Brasil, mas devem continuar encantando alguns poucos e bons. Na resistência contra os SUVs, é uma compra racional com justificativas emocionais.
Ficha técnica
Audi A4 Avant S-Line
Motor: 2.0, turbo, quatro cilindros, turbo, gasolina
Potência: 190 cv a 4.200 rpm
Torque: 32,6 kgfm a 1.450 rpm
Transmissão: Automatizado, sete marchas, tração dianteira
Suspensão: Independente, McPherson (dianteira) / multibraço (traseira)
Freios: Discos ventilados (dianteiros) / discos sólidos (traseiros)
Pneus: 245/40 R18
Dimensões: 4,73 m (comprimento) / 1,84 m (largura) / 1,43 m (altura), 2,82 m (entre-eixos)
Tanque: 54 litros
Porta-malas: 505 litros
Consumo gasolina: 10,4 km/l (cidade) / 13,5 km/l (estrada)
0 a 100 km/h: 7,5 segundos
Velocidade máxima: 238 km/h