Fechado o primeiro semestre de 2017, finalmente há motivos para comemoração. Pela primeira vez em quatro anos houve aumento nas vendas. Nada muito grandioso; apenas 4,2% em relação ao mesmo período do ano passado. Mas já é possível intuir que 2016 foi o fundo do poço, e que uma longa e lenta recuperação está em curso. O positivo balanço do semestre indica que as montadoras já podem tirar o pé do freio e começar a pensar em investimentos mais pesados.
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Porém, os frutos desses investimentos só virão em 3 ou 4 anos. Durante essa entressafra, valerá a habilidade das marcas em adequar os produtos existentes em termos de versões, equipamentos tecnologias e preços. E dá-lhe facelift e séries especiais. Enquanto isso, o balanço do semestre mostra quem teve a estratégia mais consistente. Vamos ver a seguir como está cada segmento do mercado, e o que pode acontecer até o fim do ano.
SUVS
Abrimos esta análise com o segmento que mais ganhou competidores nos últimos meses. E antes de falar dos compactos, vamos destacar o modelo que foi a maior surpresa do ano até agora: o Jeep Compass. Foram 22.003 unidades emplacadas, quase a soma de todos os outros SUVs médios.
Nada mal para um modelo acima de R$ 100 mil. Graças a ele, a Jeep foi a marca de volume que mais cresceu no mercado, tirando a 9ª posição da Nissan. No fim deste mês o Compass ganha versão flex com tração 4x4 e câmbio automático de nove marchas, além de espelhamento de celulares e outras novidades.
Isso deve ajudar a manter o modelo em alta, mesmo com a chegada do Chevrolet Equinox, sucessor do Captiva, e do recém- lançado Peugeot 3008. No andar de baixo, a dupla de líderes continua. Mas tanto Honda HR-V (23.218) como Jeep Renegade (17.796) perderam vendas em relação ao ano passado – 25% e 31%, respectivamente. A pulverização num segmento tão promissor e povoado era inevitável. E quem chegou de forma consistente foi o Hyundai Creta, com 17.323 emplacamentos.
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No pelotão logo abaixo ficaram o pioneiro Ford EcoSport (14.182) e o Nissan Kicks (12.766). Ambos vão crescer no segundo semestre. O Eco por conta da reestilização, o Kicks pela nacionalização (vinha do México). Se sua versão única custava R$ 90 mil, agora ele parte de R$ 70,5 mil na versão básica manual. A Renault perdeu espaço com o Duster (9.668), mas compensou com o Captur (4.354), que acaba de encorpar com o novo câmbio automático CVT. Peugeot 2008 e Chevrolet Tracker, ambos beirando os 5 mil, devem ficar nesse patamar mais baixo. E o WR-V? Ele está mais para Fit do que para HR-V. Vendeu quase 6 mil em menos de um ano, e deve fechar 2017 com 15 mil, tirando, em boa parte clientes de outros carros da Honda.
Uma nova onda de lançamentos deve demorar a chegar. VW deve entrar no ano que vem com um SUV derivado do novo Polo. Toyota demora um pouco mais. Com isso, a aposta de AutoBuzz para este ano é que o HR-V feche na liderança, mas seguido de perto pelo Creta. A briga pela terceira posição ficará acirrada entre Renegade, Eco e Kicks. Em qual vocês apostam?
HATCHES COMPACTOS
Já falamos numa coluna recente que, para este segmento de maior volume, um é pouco, dois é bom, três é demais. E isso fica comprovado com o desempenho acachapante da Chevrolet com o convívio das duas gerações do Onix (a versão Joy, de entrada, ainda não evoluiu). Lembremos que a GM ousou tirando de linha o Celta, o Agile e o Sonic. Deixou no jogo apenas o Onix, que emplacou no semestre 83.238 unidades.
A Volkswagen ficou na segunda posição, com 75.269 unidades, mas para isso teve de contar com a soma de Gol (36.209), Fox (20.840) e Up (18.220). Vale lembrar que na metade deste semestre a VW vai lançar o novo Polo. A aposta da coluna é que o Fox perderá espaço e será espirrado para fora da gama, ficando Gol como entrada, Up! como urbaninho premuim e Polo no andar de cima.
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O mesmo raciocínio vale para a Fiat, que vendeu 63.027 compactos, na soma de Mobi (25.618), Uno (20.196) e Palio (13.802), além de um resquício de Punto e já os primeiros 1.731 Argo. O Punto já saiu, mas o Palio perde vendas a cada mês e deve, aos poucos, ir saindo de cena. Já o Argo promete chegar ao podium no segundo semestre. A Ford comemora, por um lado, o sucesso do Ka, que vendeu 44.651 unidades, 29,2% a mais que no primeiro semestre de 2016. Já o Fiesta despencou para 8.429, por isso terá um facelift em breve, além de novidades no conjunto mecânico.
A Renault é outra que acertou a mão. O Sandero emplacou 38.867 unidades, 47,1% de crescimento. E o Kwid, que começa a ser emplacado este mês, promete volumes relevantes, dado preço de entrada (R$ 29.990) e o sucesso da pré-venda do minicarro com jeito de SUV.
A Toyota também cresceu com o Etios após sua leve reestilização. Vendeu 20.647 (alta de 23,5%). Já a Hyundai manteve o segundo posto do ranking com o HB20 (51.149), mas caiu 8,5%. O problema dela é que a fábrica está no limite da produção, e o HB teve de abrir espaço para o Creta.
SEDÃS COMPACTOS
Aqui o território da GM é ainda maias demarcado. O líder Prisma (31.202) vendeu absurdamente mais que o segundo colocado, o VW Voyage (18.413), e a Chevrolet ainda tem o Cobalt, que emplacou 11.487. Hyundai HB20S (14.862) e Toyota Etios (14.637) fizeram uma boa briga pela terceira posição, e foram seguidos por Fiat Siena (13.148), Ford Ka (12.469) e Renault Logan (10.910). No pelotão abaixo de 10 mil vêm o Nissan Versa e o Honda City, mais caros, como o Cobalt.
O marasmo deste segmento será quebrado apenas na virada do ano com a chegada de dois pesos-pesados. De um lado, o sedã Fiat derivado do Argo, que virá da Argentina. Do outro, o Virtus, versão sedã do novo Polo, que deve encostar em preço nos sedãs médios, sem atrapalhar demais o Voyage. Briga boa à vista!
SEDÃS MÉDIOS
Por muitos anos, Civic e Corolla se revezaram na liderança do mercado. Geralmente, o mais moderno levava. Mas o novo Civic chegou e pouco abalou o líder Corolla. O Toyota emplacou 29.188 unidades, queda de apenas 8,5%. Já o Civic só conseguiu fazer 14.696 unidades. Um dos problemas da Honda é o limite de suas duas fábricas (Sumaré e Argentina). Seu desenho esportivo talvez não tenha ajudado. Pelo jeito, o público desse segmento prefere algo mais blasé como o Corolla.
Outro que foi sucesso de crítica, mas não de público, foi o novo Chevrolet Cruze. Apenas 8.791 emplacamentos. A rede GM vem se mostrando uma máquina de vender carros de entrada, mas que patina com carros de maior valor agregado. Já vimos esse filme com a Fiat num passado recente.
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Os outros competidores (e são muitos), oscilaram na faixa entre 2.779 unidades vendidas (VW Jetta) e 526 (Renault Fluence). Nesse bolo estão Focus, C4 Lounge, Sentra, A3, Elantra, 408... Está cada vez mais evidente que o segmento de sedãs médios, se não chega a ser um nicho como o de hatches médios, já não tem o vigor de antes, e não comporta tantos jogadores. Para piorar, não são esperadas grandes novidades para os próximos meses. Melhor para o Corolla...
PICAPES
Entre as pequenas, nenhuma novidade. A Strada continua na frente (24.027), mas seguida cada vez mais de perto pela Saveiro (20.023). A líder caiu 17% em vendas, o que já era esperado, pois as versões mais caras perderam espaço para a Fiat Toro. A Montana (6.323) tende a tomar o rumo da Courier e da Hoggar. E a Renault Oroch (5.466) decepcionou totalmente. Nem o fator novidade ajudou a seduzir mais clientes.
O grande fenômeno entre as picapes é a Toro, com 24.686 unidades vendidas. Não só superou a Strada como picape mais vendida do país, como ficou em 9º lugar no ranking geral de vendas. Se a Fiat encolheu entre os carros compactos, ao menos pode comemorar este êxito num segmento muito mais lucrativo. O segmento médio está pouco agitado. Nova Hilux mantém a liderança (15.897), mas a S10 encostou (13.799). No bloco bem abaixo, com números decepcionantes, estão Ranger (6.806), L200 (4.863) e Amarok (4.701). Frontier segura a lanterna com míseras 1.864.
OS NICHOS
Tema da nossa coluna da semana passada, os segmentos de nicho estão encolhendo em volume de vendas e em quantidade de opções, o que pode ser interessante para os últimos sobreviventes de cada. Apenas o das peruas parece não ter futuro, com a líder Weekend emplacando irrisórias 1.923. Pelo visto, restarão apenas opções importadas, de luxo. Ou seja, peruas ficarão num nicho tão pequeno como o de cupês e conversíveis. Monovolumes ainda justificam o investimento, com espaço para não mais que três opções. Os que se destacam hoje são Fit (12.701), Spin (11.199) e Aircross (4.076).
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Hatches médios também minguam, a ponto de não sobrar espaço para mais que três competidores. Hoje, os que mais vendem são Cruze (3.222), Golf (2.461) e Focus (2.115). Números tão baixos que os aproximam cada vez mais dos hatches premium, onde se destaca o Mini Cooper (630 unidades). Vejamos quantos sobreviverão no próximo balanço do semestre.
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