Fiat Uno Mille surgiu em 1990 como o primeiro popular da era Collor
Divulgação
Fiat Uno Mille surgiu em 1990 como o primeiro popular da era Collor

Quem vê os chamados carros populares contemplados pelo novo programa de incentivo não imagina como foram os do passado. Nos anos 1960, a Caixa Econômica Federal criou uma linha de crédito com juros de 1% ao mês e prazo de 48 meses para financiar automóveis que fossem basicamente os mesmos, mas sem itens de luxo. Carros que iam do Vollkswagen Fusca pé de boi  ao Renault Gordini Teimoso , todos despidos de firulas. Mas foi nos anos 90 que o termo entrou no imaginário popular e redefiniu a indústria automotiva.

O chamado movimento dos carros populares foi fruto do governo do presidente Fernando Collor, figura que mexeu com o mundo automotivo ao dizer que os carros nacionais eram carroças. Foi em 1990 que o governo criou uma nova taxação de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para automóveis com motores de até 1.000 cilindradas, os chamados 1.0, que passaram a pagar 20% de imposto, contra 40% do que era cobrado antes . Bem menos do que os 35% cobrados por carros com litragem entre 1.000 e 1.500 cm3.

A Fiat foi a que se movimentou mais rápido. Até hoje há quem ache que foi um caso de informação privilegiada, que o fabricante já se antecipou ao movimento porque sabia de tudo. Porém, a realidade é que a marca já tinha a faca e o queijo - eles são de Minas Gerais - na mão, pois contavam com um motor de 1.048 cm3 que havia sido lançado no 147 . Bastou reduzirem um pouco para chegarem a 994,4 cm3, o suficiente para se enquadrarem no novo regime de impostos.

Surgiu assim o Fiat Uno Mille  (mil, em italiano), modelo que virou sinônimo dos populares 1.0. Com 48,5 cv de potência e 7,4 kgfm de torque, o motor a gasolina o levava de zero a 100 km/h em 17,4 segundos e chegava à velocidade máxima de 139 km/h, no que ajudava o peso de cerca de 800 kg.

Não havia encostos de cabeça dianteiros ou bancos reclináveis, tampouco retrovisor direito
Divulgação
Não havia encostos de cabeça dianteiros ou bancos reclináveis, tampouco retrovisor direito

São números de rendimento quase que zens perto do patamar de desempenho dos 1.0 atuais, no entanto, eram melhores do que os dos rivais que surgiram, até porque seus concorrentes eram carros maiores e mal adaptados aos motores menores, exemplos do Chevrolet Chevette Júnior  e Ford Escort Hobby .

Dentro da mesma tendência econômica, o pequeno quatro cilindros ajudou o Mille a obter um consumo frugal. Eram 12,3 km/l de gasolina na cidade e 15 km/l na estrada - dados do Carros na Web. Veja como anda um Mille ano 1993 no vídeo do colunista Renato Bellote.


Da mesma maneira que os ditos carros populares dos anos 60, o Mille também dispensava um bocado de confortos burgueses. Não havia espelho retrovisor do lado direito, encosto de cabeça, bancos dianteiros reclináveis ou saídas de ar laterais no painel. Se o Uno já chamava atenção por ter apenas um limpador de para-brisa, o Mille foi além e adotou o acionamento por uma bomba acionada com o pé - nada de motor elétrico. 

Mecanicamente, o câmbio manual passou a contar com apenas quatro marchas de série, contra cinco velocidades do Uno convencional, recurso que era opcional em uma lista que também tinha itens como acendedor de cigarro, algo vital em uma época em que havia muito mais fumantes do que hoje. Todos eram retrocessos justificados pela necessidade de ir além do mero desconto tarifário.  No final, o valor pedido por ele era 20% a menos do que o de um Uno normal. Isso se o ágio não fosse praticado.

O projeto foi desenhado por um dos maiores designers de todos os tempos
Divulgação
O projeto foi desenhado por um dos maiores designers de todos os tempos

Uma geringonça, você deve estar pensando. Até que não. O Uno original veio ao mundo há 30 anos atrás com qualidades raras. Pensado de dentro para fora, o compacto desenhado pelo genial Giorgetto Giugiaro ofereceu (e oferece) espaço interno incomum para um modelo de apenas 3,64 metros de comprimento, quatro centímetros a menos que um Renault Kwid . O entre-eixos de 2,36 m parece irrisório para a atualidade, mas, a despeito de parecer pequeno, abrigava bem quatro adultos altos. E o porta-malas de 290 litros é considerado bom para um hatch compacto até hoje.

O sucesso foi tal que o Uno não apenas inaugurou o mundo dos carros 1.0 como conhecemos hoje, ele também gerou mil e uma variações. Primeiro veio o Brio, que trouxe carburador duplo, depois o Electronic, com ignição eletrônica e opção de quatro portas, o ELX, o primeiro popular a oferecer ar-condicionado e alguns luxos , o EP, de injeção eletrônica… tudo até sair de linha somente em 2014.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!