Metaverso é a palavra da moda de 2023 e significa um ambiente virtual onde uma realidade é reproduzida ou representada . Foi exatamente isso que a Renault promoveu em sua fábrica em São José dos Pinhais, no Paraná. As instalações passaram por atualizações e irão produzir uma plataforma completamente nova, a CMF-B, que dará origem a um novo SUV , de nome ainda não revelado, além de outros modelos.
A aplicação de um metaverso na indústria é simples de explicar, embora sua implementação seja complexa. Toda a fábrica foi escaneada e recriada em um ambiente virtual, chamado de gêmeo digital . Além disso, gestores e líderes conseguem ter acesso às demandas dos funcionários. Todos os postos de trabalho possuem tablets onde os funcionários podem reportar eventuais problemas ou comunicar dificuldades, para que os superiores forneçam auxílio e a linha de produção não fique ociosa.
O gêmeo digital permite a visualização em tempo real de toda a fábrica , bem como “voltar no tempo” e identificar se alguma peça foi instalada com defeito, ou se algum robô apresentou uma falha que pode impactar a produção dos veículos, além de quais carros passaram pelo robô defeituoso, caso aconteça.
O uso de equipamentos de realidade aumentada como óculos de realidade virtual permitem a realização de treinamentos e até testes ergonômicos , evitando lesões dos funcionários, e ainda permitem desenvolver estruturas para os postos de trabalho, por exemplo, sem que elas sejam montadas.
Segundo a Renault, a implementação do Metaverso industrial na fábrica de São José dos Pinhais possibilitou uma economia de cerca de 10 milhões de Euros (R$ 51 milhões) na implementação do novo projeto e avançou em quatro meses a produção dos veículos na planta.
As modernidades e os benefícios vão além dos já citados. A Renault possui um centro de impressão 3D com 12 máquinas que podem realizar impressão de diversos objetos para auxiliar no dia a dia da fábrica. Os exemplos citados foram um porta rebite que, segundo o responsável pela área, custa R$ 800, mas utilizando impressão 3D é possível criar o mesmo recipiente gastando apenas um terço dos recursos.
Além disso, o Centro de impressão 3D localizado dentro da fábrica CVP (Curitiba Veículos de Passeio) pode produzir capas protetoras para equipamentos, protetores para os sensores dos veículos autônomos que circulam pela fábrica e que possuem difícil reposição. A impressão 3D ainda é aliada da produção, já que, segundo os responsáveis, a produção 3D de um virabrequim, por exemplo, auxilia a treinar a máquina de usinagem dessa peça, evitando assim, o desperdício de matéria-prima.
Conhecemos melhor todos os processos pelos quais passam um veículo. Chama a atenção uma máquina posicionada no fim da linha de produção do powertrain. O equipamento possui duas câmeras de alta definição e deve observar os parâmetros de construção do sistema motriz do veículo.
Segundo a Renault, o maquinário foi instalado em 2019, mas as fábricas tiveram dificuldades para utilizá-lo até que a engenharia brasileira adaptou o projeto para funcionar com o uso de inteligência artificial, comparando a imagem “base” com o conjunto finalizado. De acordo com os responsáveis, a fábrica paranaense é uma das poucas no mundo que conseguiu adaptar o uso da máquina para a função.
Nesse caso, a inteligência artificial foi treinada para entender, por exemplo, que existe um elástico para segurar os chicotes do motor. Originalmente, era justamente nesse elástico, por conta da sua maleabilidade que o equipamento apresentava chamados de erros. Agora, a inteligência artificial entende que esse material pode ser disposto de diversas formas, sem alterar a construção do conjunto de powertrain.
Antes do uso desse equipamento, a conferência da montagem do conjunto era feita manualmente por cerca de quatro profissionais, que foram remanejados para outras áreas e, nas palavras da Renault, para fazer um trabalho que agrega mais “valor” do que conferir e fazer marcações no conjunto motriz.
Além disso, a conexão da fábrica no metaverso industrial do Grupo Renault permite o envio de relatórios para a gerência brasileira ou até mesmo na França em tempo real. É possível ver quantos carros são produzidos ou até mesmo a quantidade de resíduos emitidos e insumos consumidos .
No fim das contas, a Renault ainda produz carros. Assistir esse processo ao vivo é curioso, principalmente ao perceber que, em diversos momentos, robôs autônomos percorrem certos caminhos pela fábrica carregando quatro portas de um veículo ou até mesmo um painel montado de um Duster, por exemplo.
A fábrica de São José dos Pinhais é a maior da Renault na América Latina e produz 60 veículos de passeio por hora . Somando com a fábrica de utilitários, o número sobe para 75 veículos/hora . Os processos implantados aqui, serão levados para as demais fábricas do grupo em Córdoba , na Argentina, e em Envigado , na Colômbia. Nessas fábricas, o volume de produção é bem menor, cerca de 15 veículos por hora .