Enquanto o mercado norte-americano já possui a nova geração do Honda CR-V desde julho de 2022, o Brasil, como sempre, demora para receber, e só chegou aqui em março deste ano. Enquanto lá o SUV é vendido por US$ 32.950, (R$ 169.791) aqui não é menos de R$ 352.500. Mas alguém compraria um veículo tão caro desse com diversas opções no mercado?
Sim, e não. Claro, que o sim é muito mais difícil, mas por mais que exista um minúsculo mercado, ainda tem. Já o não ganha por uma grande margem. Foi essa pergunta que fiz para algumas pessoas que conversei sobre. Mas o que define o material comprado e o valor dele, do custo benefício que ele trará. O CR-V tem um bom custo benefício? É isso que iremos explorar nessa avaliação do Novo Honda CR-V Advanced Hybrid.
DESIGN E ERGONOMIA
O novo Honda CR-V ganhou um visual bem mais agressivo na frente, com uma grade do tipo colmeia em formatos bem grandes, dando uma aparência de robustez e agressividade. Os faróis 100% em LED tem um formato familiar, com a nova identidade da Honda, e iluminam bem devido também à falta da luz de neblina. Só ouvi elogios bem exagerados pela agressividade e robustez da dianteira.
Nas laterais, é possível observar as rodas pintadas em preto, apenas com um elemento em prateado que circula, dando um visual também agressivo, porém com elegância. À traseira, as lanternas também 100% em LED têm a identidade do CR-V, na vertical, invadindo a tampa do porta-malas. Os escapamentos tem saídas falsas, porém dá um charme a mais para o veículo.
O espaço traseiro e o conforto é uma verdadeira sala de estar. Com os bancos regulados para mim, de 1,88 m, tive bastante espaço para movimentar as pernas e os pés. Ainda os bancos podem ser regulados para estar mais deitados, ou mais verticais. O CRV conta com duas saídas USB-C de 3,0 A e saídas de ar-condicionado.
O conforto para guiar também é bom, já que os bancos abraçam muito bem e o console alto ajuda a apoiar as pernas. O espaço de visão também é bem amplo, e a regulagem de altura do banco ajuda a ter ainda mais visão aprimorada. É uma posição de cockpit mesmo, com os botões ao alcance e bem aconchegante.
São 4,70 m de comprimento, 1,86 m de largura, 1,69 m de altura e um entre-eixos de 2,70 m . O porta-malas é de 581 litros, maior que o rival Toyota RAV4.
MOTOR LEVA BEM O VEÍCULO, MAS SÓ QUANDO AS BATERIAS ESTIVEREM CHEIAS
Sob o capô, o Honda CR-V abriga um motor a gasolina 2.0 aspirado, que produz 147 cv e 19,4 kgfm de torque a 4.500 rpm. Esse motor trabalha em conjunto com dois motores elétricos, fornecendo até 184 cv e 34,2 kgfm de torque. A potência máxima combinada é de 207 cv e o torque máximo é de 34,2 kgfm. A transmissão e-CVT abriga os dois motores elétricos do modelo - um gerador e outro de tração de alta potência.
Na cidade, é gostoso de guiar, porém, em alguns momentos, com a falta de bateria, ele fica bem manco. Não é por acaso, o veículo pesa 1.819 kg e apenas 147 cv não são suficientes. Mas quando os dois conjuntos (a combustão e elétrico) trabalham juntos, ele se vira bem, embora esteja longe daquela pitada gostosa de esportividade que vemos no Accord e no Civic. Aqui, é bem mais modesto e também tem outro toque de condução.
Ele também é bem confortável ao passar por buracos, sem transmitir desconforto para a cabine, o que gerou uma sensação de maciez. Embora não seja a melhor suspensão do mercado, faz bem o seu trabalho. As suspensões são independentes nas quatro rodas, McPherson na frente e multilink atrás.
Já na estrada, ele consegue se destacar, pois as baterias estão praticamente sempre carregadas. Nesse contexto, o torque do motor elétrico é especialmente útil em retomadas, fazendo 80 km/h a 120 km/h, ou 60 km/h a 100 km/h em cerca de 6 segundos.
O CR-V demora para apresentar sinais de "cansaço", o que permite um bom desempenho em diversas velocidades, além dele se manter estável na estrada sem demonstrar fraqueza. As curvas são realizadas muito bem para um SUV, sem que ele pareça perder aderência, mesmo em velocidades mais altas - os pneus largos 255/55 R19 ajudam bastante nessas situações.
Segundo o Inmetro, o consumo é de 14,2 km/l no ciclo urbano e 11,6 km/l no ciclo rodoviário. Em nossos testes, seguindo as velocidades das vias, alcançamos 14,6 km/l na cidade e 13 km/l na estrada. No entanto, quando a bateria está fraca, esses números caem drasticamente.
A diferença entre o CR-V e seus irmãos sedãs, o Accord e o Civic, é perceptível na prática. A bateria do CR-V, com cerca de 1 kWh, é a mesma utilizada nos sedãs, o que faz com que ela se descarregue mais rápido e frequentemente pareça estar baixa.
Nos sedãs, o motor a combustão é utilizado principalmente para impulsionar o carro em velocidades mais elevadas e constantes (cruzeiro), graças a uma relação fixa de engrenagem. Já no CR-V, existem duas relações fixas: uma intermediária e outra Overdrive.
Na prática, o SUV é movido pelo motor elétrico de tração de 0 km/h até 40 km/h. Durante acelerações mais moderadas, o motor a combustão entra em cena para gerar energia tanto para as rodas quanto para o motor elétrico, mantendo a bateria carregada. Já no Civic e no Accord , as arrancadas de 0 km/h até a velocidade de cruzeiro usam apenas os motores elétricos, com mais atuação da bateria. Devido ao menor peso dos sedãs, eles consomem menos e carregam mais rapidamente.
O isolamento acústico merece destaque aqui, com a Honda investindo em materiais de absorção sonora na carroceria e nas caixas de rodas, além de vidros duplos nas portas dianteiras e para-brisa acústico, o que garantiu uma cabine silenciosa em diversas situações e mesmo em acelerações. No modo Sport, o som do motor a combustão é amplificado pelos alto-falantes, assim como no Accord e Civic.
INTERIOR E EQUIPAMENTOS:
À frente, destaco os bancos, que são bastante confortáveis e dão um bom apoio ao condutor. Apesar das placas de resina aplicadas nos bancos pela Honda , sentir certo cansaço em viagens mais longas. Eles são revestidos em couro legítimo na maior parte e material sintético nas laterais. Tanto o banco do motorista quanto o do passageiro contam com ajuste elétrico, sendo que o do motorista possui duas memórias para ajuste.
O acabamento do painel superior e das portas é suave ao toque. O console central apresenta plástico rígido nas laterais onde é apoiado as pernas, mas nada que incomode. Todas as peças de montagem são bem encaixadas, sem qualquer rebarba solta. Além disso, há detalhes de imitação de madeira nas portas e no painel, juntamente com iluminação nos porta-copos e uma faixa de LED azul nas portas.
A base da alavanca de câmbio alta, característica marcante dos modelos anteriores do CR-V , foi substituída por uma alavanca levemente elevada. Ao lado dela, é possível encontrar os três modos de condução (ECO, NORMAL, SPORT), o freio de estacionamento eletrônico e o sistema auto hold. O compartimento central oferece espaço para nove litros, sendo este um ponto interessante do modelo, que conta com diversos porta-objetos distribuídos pelo carro, com tamanho suficiente para acomodar itens do dia a dia.
O volante apresenta assistência elétrica progressiva é extremamente confortável, leve e bem calibrado em velocidades mais altas. Nele, encontram-se as funções do piloto automático adaptativo Stop & Go (anda e para), que é muito bem ajustado, evitando aquelas freadas bruscas quando um carro surge à frente. Além disso, oferece assistência em permanência de faixa com centralizador que pode ser ativado aos 73 km/h e desativa automaticamente aos 63 km/h.
Do outro lado, estão as funções para mudar as informações do painel de instrumentos de 12,2’’, que é fácil de mexer e muito intuitivo, assim como o sistema multimídia de 9’’. É uma pena que o Android Auto seja por cabo , enquanto o Apple CarPlay é sem fio.
O sistema de som é de alta qualidade, o que era de se esperar, afinal, o CR-V utiliza caixas de som fornecidas pela Bose. Isso faz com que aquele ambiente silencioso seja preenchido por graves profundos e médios muito bem equilibrados.
Quanto ao ar-condicionado de duas zonas, automático, ele oferece boas posições de saída de ar. No entanto, senti falta de ventilação nos bancos, algo presente em outros modelos da mesma faixa de preço ou até mesmo mais baratos. Diga-se de passagem, essa seria uma adição bastante útil no Brasil. Também não há saídas de ar no baú e nem no porta-luvas. Porém, para refrescar a cabeça, o modelo conta com um teto solar panorâmico, embora apenas metade dele possa ser aberta.
Pelo valor, também poderia ter sido adicionado câmeras 360°, sensores laterais, e ''Park Assist'' (estaciona sozinho), para condutores que possuem mais dificuldade de estacionar o veículo.
Por fim, uma crítica importante que sempre abordo em minhas avaliações com os veículos da Honda é o auxiliar de ponto cego que não possui no veículo. É difícil compreender a escolha da Honda em trazer esse recurso para o Brasil. Eles mencionam que o auxiliar é o LaneWatch, introduzido no HR-V Touring 2019 , que consiste em uma câmera instalada apenas no retrovisor direito do veículo. Ao acionar a seta, a câmera é exibida no multimídia.
Porém, se você estiver navegando pelo mapa, pode perder sua rota, pois a câmera é ativada no multimídia, obstruindo a visão do mapa. Isso pode levar o condutor a se distrair e perder a rota. Para desativar ou ativar a câmera manualmente é necessário clicar em um botão na haste da seta, o que pode ser bastante incômodo. Porém é possível desativá-la nas configurações do veículo.
Além disso, o recurso está disponível apenas no lado direito, enquanto lá fora a Honda oferece o sensor comum de ponto cego. Embora o recurso em si seja interessante, a forma como é implementado acaba sendo menos prática do que em outros modelos, como o Hyundai Creta , onde a câmera aparece no painel de instrumentos, não interferindo na visualização do mapa.
Um veículo com preço superior a R$ 350 mil sem um sensor de ponto cego comum é frustrante, algo que já deveria estar presente, assim como nos modelos vendidos no exterior.
Em segurança, o CR-V oferece de sobra. Em termos de tecnologia, ele apresenta um radar atrás do logo da Honda e uma câmera instalada no para-brisa, onde visualiza tudo que está ocorrendo ao redor do veículo. A função é chamada de Honda SENSING e já está disponível em quase todos os veículos da marca. Ele traz as seguintes funções:
- ACC com LSF- Controle de cruzeiro adaptativo com Low Speed Follow: auxílio para manutenção de distância segura em relação ao veículo à frente. O LSF permite a atuação do ACC mesmo em baixas velocidades, operando, inclusive a parada total e posterior retomada do movimento;
- CMBS - Sistema de frenagem para mitigação de colisão: aciona o freio quando é detectada possibilidade de colisão frontal, identificando pedestres e veículos que estejam no mesmo sentido ou no sentido oposto;
- LKAS - Sistema de assistência de permanência em faixa: detecta faixas e ajusta a direção, mantendo o veículo centralizado nas faixas de rolamento;
- RDM - Sistema para mitigação de evasão de pista: detecta saídas da pista e ajusta a direção;
- AHB – Farol alto automático: comuta automaticamente do facho baixo para o alto, de acordo com a condição.
Além disso, o SUV oferece dez airbags de série (frontais, tipo cortina, joelhos, laterais dianteiros e laterais traseiros), monitor de atenção do motorista, assistente de tração e estabilidade (VSA), assistente de partida em rampa (HSA), sistema de luzes de emergência em frenagens severas (ESS), câmera de ré multivisão com linhas dinâmicas, sensor de pressão dos pneus (TPMS), sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, sistema Isofix (fixação de assentos infantis), entre outros.
O modelo tem três anos de garantia, sem limite de quilometragem. O conjunto elétrico (baterias e motores) têm garantia de oito anos ou 160.000 km.
RESUMO DA ÓPERA
O Honda CR-V se apresenta como um ótimo veículo. No entanto, faltam algumas tecnologias que já são encontradas em carros mais baratos. Por esse valor, é de se esperar que o carro venha equipado com itens como câmera 360 graus, sensores laterais, mais ajustes de condução e uma tela maior, elementos que atraem o consumidor. É difícil pensar que, por esse preço, é possível adquirir uma BMW X1 na versão topo de linha, que oferece muito mais recursos do que o CR-V.
A Honda sempre investiu bastante em tecnologia, especialmente em segurança, e isso é um ponto forte do CR-V . No entanto, ao compará-lo com o que o mercado oferece em termos de preço e funcionalidades, fica claro que será difícil para esse modelo ter o mesmo sucesso de vendas do passado.
Se considerarmos apenas a qualidade do veículo, sem levar o preço em conta, o CR-V é indiscutivelmente um carro de extrema qualidade, com um bom acabamento, ótimo espaço interno, boa economia de combustível e uma motorização razoável. Ele também oferece bastante tecnologia, embora falte alguns recursos importantes. Porém, seu preço elevado compromete muito sua competitividade no mercado.
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