O investimento de R$ 14 bilhões que a FCA (Fiat Chrysler Automobiles) fará no Brasil até 2022 não tem relação direta com o governo de Jair Bolsonaro. Essa injeção de dinheiro já estava decidida pelo board da empresa em junho do ano passado, portanto bem antes da definição dos rumos da política brasileira.
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Da mesma forma, em julho de 2018, a FCA já havia anunciado que R$ 8 bilhões seriam destinados ao Polo Betim, da Fiat . As duas notícias podem ser comprovadas pelas imagens publicadas abaixo, em duas reportagens do site especializado Automotive Business.
Na primeira reportagem, publicada no dia 25/06/2018, às 20h21min, Automotive Business afirma: “FCA promete investimento de R$ 14 bilhões no Brasil”. E complementa: “Maior parte dos recursos será usada até 2022 no desenvolvimento de produtos, incluindo novos 3 SUVs Fiat e mais um Jeep”.
Na segunda reportagem, publicada no dia 9/7/2018, às 11h45, Automotive Business afirma: “FCA direciona R$ 8 bilhões ao Polo Fiat em Betim”. E complementa: “Planta que comemora 42 anos passa por modernização e sedia o desenvolvimento de novos modelos”. As duas reportagens são assinadas pelo jornalista Pedro Kutney, que participou do Capital Markets Day, em Balloco, na Itália, quando a FCA informou a investidores e à imprensa sua situação atual e os planos para os cinco anos seguintes.
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O equívoco sobre os motivos do investimento da FCA no Brasil (cometido por alguns jornalistas automotivos e por parte do público) ocorreu porque na semana passada a FCA soltou um press-release sobre a visita que seus diretores fizeram a Bolsonaro e Guedes.
O release da FCA afirma: “Dirigentes da FCA destacam confiança no Brasil durante audiência com o presidente Jair Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes”. No ambiente de polarização política que vivemos no Brasil, qualquer movimento da economia é utilizado a favor ou contra o governo, ou então a favor ou contra a oposição.
Entretanto, para o bem da verdade, e para dar mais elementos para o saudável debate entre os leitores, cabe dizer que as montadoras de automóveis não costumam fazer oposição a nenhum governo. O que move a indústria automobilística é o lucro – pouco importa a ideologia do governo, desde que a economia tenha estabilidade e o mercado esteja sendo lucrativo.
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Para a FCA, o mercado vem sendo lucrativo há muitos anos. No terceiro trimestre de 2018, por exemplo, a FCA expandiu as receitas operacionais na América Latina em 14%, para 1,98 bilhão de euros e incrementou o lucro operacional em 41%. Esse resultado teve forte participação do Brasil, pois foi obtido apesar da retração do mercado argentino registrada no período. O crescimento continua em 2019. As vendas na América Latina somaram 120 mil unidades no primeiro trimestre, novamente apesar da forte retração do mercado argentino no período.
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Segundo comunicado da empresa, “no Brasil, as vendas da FCA estão em expansão, alcançando uma participação de mercado de 18,6% no acumulado de janeiro a março”. E completa: “As vendas geraram uma receita de 1,93 bilhão de euros na região, com ligeira expansão em relação a igual período de 2018.
Já o lucro antes dos juros e impostos cresceu mais de 40% em relação ao acumulado de janeiro a março do ano anterior, alcançando 105 milhões de euros, com margem de 5,4%”. Por isso, e devido ao câmbio favorável para investimento em reais, a injeção financeira no mercado brasileiro passou de R$ 14 bilhões para R$ 16 bilhões.
Novos motores turbo terão 125 e 185 cavalos
Esta é a verdadeira razão dos investimentos da FCA na fábrica da Fiat em Minas. A outra razão é a defasagem de seus motores. Por isso, em evento que contou também com a participação do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, a FCA anunciou que aumentou o investimento em Betim para R$ 8,5 bilhões.
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A atual fábrica de motores será ampliada para a produção de um motor 1.0 turbo flex de 125 cavalos e outro 1.3 turbo flex de 185 cv. O 1.0 terá três cilindros. Esses motores terão bloco em alumínio, quatro válvulas por cilindro, injeção direta e sistema MultiAir (controle eletrônico das válvulas de admissão), além de outras tecnologias que deixarão os carros da Fiat mais competitivos perante modelos similares da Volkswagen, da Ford e da Chevrolet.
Embora não tenha sido confirmado, também haverá um investimento num motor de 240 cv de potência. Esses novos motores servirão não apenas os carros da Fiat, mas também os da Jeep.
No caso da Fiat, o presidente Antonio Filosa confirmou que dois ou três novos SUVs serão lançados até 2022 e que dois deles serão baseados no protótipo Fastback, mostrado no último Salão de São Paulo. O terceiro SUV da Fiat, ainda está em estudos, mas acreditamos na vinda do Fiat 500X, também mostrado no Salão de São Paulo. Até mesmo nota máxima nos testes de impacto do Latin NCAP o 500X já conseguiu.
O Brasil é importantíssimo para a Fiat . É o maior mercado da montadora, superior até mesmo ao da Itália. Há muitos anos a fábrica de Betim (MG) é a segunda maior da indústria automobilística mundial, perdendo apenas para a fábrica da Hyundai em Ulsan, na Coreia do Sul. Apesar de os executivos da FCA terem manifestado ao governo brasileiro apoio às reformas estruturais, os investimentos já estavam decididos antes das eleições.