Apesar da crença popular, um raio pode cair duas vezes no memso lugar. A Jaguar Land Rover acredita que vai conseguir repetir o grande resultado do Range Rover Evoque , atraindo novos clientes para a fabricante com o lançamento do Jaguar F-Pace, o primeiro SUV de uma marca que, até então, trabalhava apenas com sedãs e cupês. E a aposta é tão arriscada quanto foi o Evoque , mirando em clientes com maior poder aquisitivo, já que o utilitário parte de R$ 309.700.
A estratégia tem base. Se colocassem o para-raio na mesma posição de mercado em que estão Range Rover Evoque e Land Rover Discovery Sport , iriam concorrer entre si. O Jaguar F-Pace quer atrair homens entre 35 e 45 anos e com maior poder aquisitivo, que precisam de um SUV para levar a família, mas sem abrir mão de um bom desempenho, tanto com o carro cheio quanto para quando estão dirigindo sozinhos.
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O primeiro choque do Jaguar F-Pace é o design. A frente traz o design bem resolvido que já vimos no sedã XE : uma enorme grade frontal, entradas de ar no para-choque com ar esportivo e faróis mais afinados, com uma linha de LED que forma uma letra J deitada. Na traseira, a bela combinação vista no esportivo F-Type , com lanternas finas, com um pequeno círculo quando chegam na tampa do porta-malas. As linhas são fortes, vindas direto do capô e dão um aspecto musculoso.
Na cabine, encontramos um ambiente um pouco mais comum. É uma reutilização do design interno de vários outros carros da Jaguar Land Rover. O seletor do câmbio, por exemplo, é um círculo, como no Evoque , Discovery Sport , Range Rover Sport e tantos outros. Algumas coisas mudam, umas para melhor, outras para pior. O comando dos vidros subiu para a borda próxima ao vidro, uma posição muito estranha, enquanto a localização tradicional ficou para os botões de memória do ajuste de banco e volante.
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Pode ter certeza que vem bem equipado, mesmo na versão mais barata. O modelo Prestige vem com central multimídia com GPS e tela sensível ao toque, de oito polegadas, bancos e volante com ajuste elétrico, tração integral com sistema All Surface Progress Control, sensor de estacionamento com câmera de ré, teto panorâmico, faróis de xênonio com LED e rodas 18” de liga leve. É vendida por R$ 306.700, equipada com o motor 2.0 turbodiesel de 180 cv e 43,8 kgfm de torque.

A configuração R-Sport , por R$ 360.900, adiciona a nova central multimídia InContrl Touch Pro com tela de 10,2 polegadas, rodas 20”, painel de instrumentos com tela TFT de 12,3 polegadas, teto solar, abertura do porta-malas por gestos e sistema de som Meiridian de 380W. Sai o motor diesel para entrar o 3.0 V6 sobrealimentado de 340 cv e 45,8 kgfm de torque, o mesmo usado nas versões mais baratas do esportivo F-Type.
O topo da linha é ocupado pelo Jaguar F-Pace S. Custando R$ 405.300, o SUV ganha Heads-Up Display, o sistema Adaptive Dynamics, que ajusta a suspensão o tempo todo de acordo com as condições da via, som Meridian de 825W e pinças de freio esportivas. O motor 3.0 V6 supercharged ganha mais potência, passando de 340 cv para 380 cv, embora o torque continue a ser de 45,8 kgfm. Todos são equipados com suspensão dianteira Double Wishbone e traseira Integral Link.
Como um raio
Depois de passar um dia inteiro dirigindo o Jaguar F-Pace, tanto na versão Prestige com motor diesel quanto no modelo R-Sport com motor a gasolina, a primeira impressão é o carro nem parece um SUV. O ajuste feito pela Jaguar na suspensão, motores e direção deixam o carro muito afiado, lembrando muito o sedã XE e, em alguns momentos, até mesmo o esportivo F-Type .
Os primeiros momentos do test-drive foram com o modelo Prestige , com o motor 2.0 diesel de 180 cv. É um modelo que vale a pena mostrar para quem ainda acha que motores a diesel são muito barulhentos e não servem para carros de passeio. Silencioso, com um ótimo torque e bem econômico, consegue ser tão eficiente que logo tornou-se a versão que eu compraria, caso tivesse os R$ 306.900 e pudesse equipá-lo com alguns itens das versões mais caras.
O trajeto inicial, composto pelas ruas de Belo Horizonte (MG) e parte das estradas em volta, mostrou como o Jaguar F-Pace não deve nada para um Range Rover. Imponente, chamava a atenção das pessoas nas ruas. É fácil traçar um paralelo com a época em que o Evoque foi lançado, pois o efeito é semelhante. As pessoas tentavam tirar foto daquele SUV que nunca tinham visto – uma mulher dirigindo um BMW X3 me seguiu por um bom tempo, usando o celular para capturar como podia algumas imagens do crossover.

Ao chegar ao ponto turístico Topo do Mundo, o computador de bordo marcava 17,1 km/l, uma média interessante para um SUV de 1.775 kg com motor diesel, sempre guiando com calma. Um ponto ruim é que, no modo Eco, o F-Pace fica bem anestesiado em baixa velocidade. É o custo por focar no consumo. Mas basta mudar o modo de direção para Normal para acordar um pouco mais o carro e conseguir mais desempenho, graças ao belo torque de 43,8 kgfm entre 1.750 e 2.500 rpm.
O resto do test-drive do primeiro dia foi com o Jaguar F-Pace R-Sport, com o motor 3.0 V6 supercharged a gasolina. Ainda bem, pois foi o momento de encarar a Serra do Rola Moça, estrada na região de Brumadinho (MG), conhecida por suas curvas fechadas e por ser usado para fraudes contra seguradoras – algumas pessoas jogam veículos de lá de cima para conseguir o dinheiro do seguro. Claro que estava mais interessado em fazer as curvas do que dar perda total no SUV.
Enquanto o motor diesel foca mais no bom rendimento energético, o motor a gasolina foca na velocidade. Com ele, o F-Pace vai de 0 a 100 km/h em 5,8 segundos, muito mais rápido do que uma enorme lista de carros menores e mais leves. É essa versão que mostra a ideia de que o SUV pode agradar o pai de família, com desempenho quando está sozinho, e com espaço o suficiente para levar a família para o sítio no fim de semana.
Como é de praxe quando a Jaguar Land Rover lança um utilitário, fizeram um trecho de testes envolvendo situações mais extremas. Desta vez, levamos o F-Pace para encarar a pista off-road do centro de treinamento CWS 4x4 e usar o All Surface Progress Control. Ao ativá-lo, tudo o que temos que fazer é mexer o volante, pois o carro irá cuidar da aceleração e frenagem para subir a trilha com habilidade, superando a pista de treinamento com facilidade.
O contato com a versão topo de linha S foi bem curto. Testamos essa versão do Jaguar F-Pace em um condomínio fechado e ainda inabitado, fazendo exercícios como aceleração e frenagem. O que marcou foi sua capacidade de ir de 0 a 100 km/h em 5,5 segundos. O preço disso é custar R$ 406.300. É brutal, mas não acho que seria uma versão que compraria, já que a diferença para o R-Sport é de apenas 0,3 segundo. Compensaria mais pelos equipamentos, como o Heads-Up Display.
Um relâmpago pode sim cair novamente no mesmo lugar. No caso do Jaguar F-Pace, ele vai servir de para-raio para atrair o sucesso que conseguiram com o Range Rover Evoque. A fórmula está toda ali: um extensivo pacote de equipamentos e um motor que deixa o veículo bem mais esportivo, tudo dentro de um carro com um design que vai causar inveja e desejo nos outros. Só resta saber se essa tempestade vai ajudar a marca ou se vai afogar seus planos.