A estratégia da Toyota com o Corolla Cross se mostrou um sucesso. O SUV chegou ao mercado compartilhando diversas peças e até o nome com o Corolla sedã , principal modelo da marca japonesa em todo o mundo, e desde 2021, nunca ficou abaixo dos 10 SUVs mais vendidos no Brasil , apesar de não trazer motor turbo, algo comum no segmento.
Aproveitando os dias de carnaval, viajei do Rio de Janeiro até Porto Seguro (BA) para descobrir melhor o SUV na sua versão XRE , uma das mais acessíveis do modelo, oferecida por R$ 177.390 , que com a cor Vermelho Granada das imagens, sobe para R$ 179.410 .
De série, essa versão traz ar-condicionado digital , banco do motorista com regulagem manual , controle de velocidade de cruzeiro, direção com assistência elétrica , entradas USB-C, retrovisores com ajustes elétricos , sensor de chuva, partida por botão, central multimídia de 9 polegadas com espelhamento com Android Auto e Apple CarPlay , 7 airbags , assistente de pré-colisão frontal com frenagem automática e alerta de saída de faixa.
40 horas de estrada
O Corolla Cross se mostrou um carro bom em uso rodoviário. Realizar curvas e ultrapassagens com o SUV não será empolgante , mas tudo funciona muito bem , compradores do modelo poderão realizar suas viagens com conforto e tranquilidade. Os retrovisores possuem um bom tamanho e os ajustes elétricos facilitam a visualização.
Em um trajeto de serra de mão dupla, durante a madrugada, foi possível utilizar o sistema de farol alto adaptativo, que funciona muito bem, assim como o alerta de saída de faixa. São salvaguardas que facilitam no uso rodoviário.
A suspensão dianteira é do tipo McPherson e é bem macia ao rodar em asfalto . Em estradas mais esburacadas o impacto é bem absorvido pelo conjunto. Na traseira, o sistema conta com suspensão do tipo eixo de torção , notadamente um pouco mais rígida, mas nada que incomode muito. Os pneus Bridgestone Alenza 225/50 R18 oferecem boa aderência e um nível de ruído bem aceitável.
Fica a dúvida se a versão GR-Sport , batizada em homenagem à divisão de competição da Toyota , traz ajustes mais firmes para o sistema de suspensão.
Incômodos durante a viagem
A viagem com o Corolla Cross só ficou “complicada” em momentos de ultrapassagem. O motor 2.0 flex gera 177 cv de potência a 6.600 rpm e 21,4 kgfm de torque a 4.400 giros (etanol), e somado à uma transmissão automática do tipo CVT de 10 velocidades simuladas fazem muito barulho na hora de realizar uma ultrapassagem , e que pode resultar em reclamação por parte de alguns passageiros.
É preciso se acostumar com o conjunto até conseguir a confiança necessária para ultrapassar veículos , principalmente caminhões longos. A tecla PWR da transmissão deixa o painel na cor vermelha e segura as rotações em patamares mais elevados, justamente onde o motor entrega mais potência e pode facilitar ultrapassagens, bem como a redução manual das marchas pelas borboletas atrás do volante .
Antes de me acostumar com o carro, as ultrapassagens eram realizadas somente com a tecla PWR acionada e após reduzir, de forma manual, uma marcha. As ultrapassagens são feitas com segurança, mas o ruído do motor invade a cabine com certa violência, o que incomoda bastante . Vale ressaltar que o modelo testado não trazia manta acústica no capô .
O motor é ponto onde o Corolla Cross poderia trazer uma grande novidade. Seus rivais de segmento ( Tracker , Compass , Creta , Taos ) todos trazem pelo menos uma opção de motor turbo por um preço similar , e além de torque mais cedo, no caso do Taos e Compass .
Rodando a 100 km/h a rotação do motor ficava na casa dos 2 mil giros, justamente onde, nos carros turbo , a maior parte do torque é entregue, o que facilita ultrapassagens. Não à toa, foi possível ver diversos Jeep Compass turbo realizando ultrapassagens (até ousadas demais) durante a viagem.
A Toyota oferece as versões com motorização híbrida , que traz 31,1 kgfm de torque quando somados os torques dos motores a combustão e elétricos , entretanto, esse valor não é o torque combinado do conjunto, que não é divulgado pela fabricante.
Outro fator que causou incômodo durante a viagem foi a falta de isolamento acústico sob o carro . Uma parte da estrada estava passando por obras e havia diversas pedrinhas pelo caminho que ao passar por elas batiam no assoalho do veículo, causando um barulho até perturbador.
Ao chegar no destino, logo fui ver se havia proteção nas caixas de roda do Corolla Cross XRE e sim, existe essa proteção, então, só pode haver a falta de isolamento acústico abaixo do carpete interno. Uma economia de custo que não faz sentido em um carro de mais de R$ 170 mil .
Consumo
Segundo o Inmetro , o consumo do Toyota Corolla Cross com etanol é de 8,2 km/l na cidade e 9 km/l na estrada e com gasolina as médias são de 11,7 km/l e 13 km/l nos mesmos ciclos. Somente etanol foi utilizado durante a viagem e as médias foram de 9,2 km/l com momentos de 9,4 km/l segundo o computador de bordo do veículo.
Espaço interno
Quatro adultos conseguem viajar tranquilamente dentro do Corolla Cross , pessoas com altura mais alta podem sofrer nos bancos traseiros, que possuem dois níveis de ajuste de inclinação . O entre-eixos é de 2,64 metros, 6 cm menor que o do Corolla sedã , que também vence o SUV no porta-malas, com 470 litros, ante os 440 do utilitário.
Entretanto, uma família de quatro pessoas consegue viajar sem muitos problemas nos dois modelos, mas se precisa de mais espaço e um consumo de combustível um pouco melhor, o sedã pode lhe atender melhor.
Não senti desconforto no banco do motorista, entretanto, quem ocupou o banco do passageiro se queixou de incômodos na região da lombar.
Os materiais utilizados pela cabine são de boa qualidade, mas o desenho poderia ser um pouco mais ousado, sendo exatamente o apresentado pelo sedã.
Muita gente reclama do pedal de freio de estacionamento do Corolla Cross , algo que deve ser modificado quando o facelift do modelo chegar ao país , não diria que isso me incomodou, mas um freio de mão eletrônico já caberia em um carro desse preço.
Conclusão
O Corolla Cross é um bom carro. O logotipo da Toyota pode ser um grande facilitador na hora das vendas, afinal, a marca é reconhecida pela durabilidade de seus veículos e a tendência é que o modelo mantenha um bom valor de mercado.
Entretanto, quem procura por um SUV que entregue uma condução um pouco mais esperta , deve procurar por um modelo com motorização turbo . O Corolla Cross tem tudo para ser um ótimo carro para quem pretende ficar com o automóvel por muito tempo e busca uma compra extremamente racional .
O ruído elevado do motor não será problema para quem roda muito pela cidade, o consumo de combustível é satisfatório neste ambiente. O que pode pesar é o interior pouco inspirador e até o pedal do freio de estacionamento, mas é uma característica a qual se pode acostumar com o tempo.