SUV da Toyota chegou ao Brasil em 2021 para juntar o útil com o agradável - o crescimento na venda dos SUVs no mercado com o nome Corolla, o sedã médio mais vendido
Luiz Forelli Santana/iG
SUV da Toyota chegou ao Brasil em 2021 para juntar o útil com o agradável - o crescimento na venda dos SUVs no mercado com o nome Corolla, o sedã médio mais vendido

Quantas vezes já ouvi pessoas comentarem que optariam pelo Toyota Corolla Cross em vez do sedã , simplesmente por ser maior. Para muitos, SUV é sinônimo de mais espaço, mais conforto e mais robustez. Mas e se eu disser que n ão é bem assim.  O Corolla Cross , na verdade, deixa muito a desejar em comparação com seu irmão sedã.

Testamos o Corolla sedã, na versão topo de linha , e agora foi a vez do Corolla Cross XRX Hybrid , também topo de linha, que chega a custar R$ 210.990 , ou seja, R$ 12.100 a mais do que o Corolla. Mas será que faz sentido pagar tão mais caro por um carro com características inferiores , como o freio de estacionamento que parece ter saído de uma  Chevrolet D20 dos anos 80?

Isso não significa desmerecê-lo em comparação com concorrentes, aliás ele é o SUV híbrido mais barato e o mais vendido aqui no Brasil. Os principais concorrentes são o Honda ZR-V , Volkswagen Taos , Chevrolet EquinoxFord Territory, Kia Niro e Jeep Compass . Dentre esses, apenas o Niro e Compass possuem modelos híbridos EV. 

Lembrando também, que o Corolla Cross irá receber uma reestilização de meia-vida  para adequar-se mais à realidade, como freio de estacionamento eletrônico, painel de instrumentos digital, teto solar panorâmico, entre outros. Essa atualização deve chegar no final deste ano ou começo de 2025. 

Atrás, o SUV é mais apertado que o Corolla sedã
Luiz Forelli Santana/iG
Atrás, o SUV é mais apertado que o Corolla sedã

MAIS APERTADO E PORTA-MALAS MENOR QUE O COROLLA SEDÃ

O tamanho consegue entregar um entre-eixos e porta-malas menor que o Corolla sedã. O SUV tem 4,46 m de comprimento , 1,82 m de largura , 1,62 m de altura, entre-eixos de 2,64 m, porta-malas de 440 litros (medido pelo padrão VDA) e um tanque de combustível minúsculo de 36 litros que comentarei mais à frente.

Comparando com o Corolla sedã, que possui um entre-eixos de 2,70 m , um porta-malas de 470 litros e um tanque de combustível de 43 litros , essas mudanças fazem diferenças, exceto pelo porta-malas, que ainda permite usar a parte de cima, que não entra na medição padrão VDA . Porém, prepare-se para a multa de R$ 195 por tampar o vidro traseiro. 

O espaço atrás, não foi lá dos melhores para mim, especialmente considerando as medidas do Corolla sedã . O problema de raspar a cabeça no teto acabou, graças ao teto alto. Mas a área para os joelhos ficou bem apertada, a ponto de fazer o tecido do banco dianteiro afundar com meu joelho. E olha que tenho 1,88 m. 

Versão XRX oferece bancos na cor em bege
Luiz Forelli Santana/iG
Versão XRX oferece bancos na cor em bege

Um ocupante, de 1,70 m, também enfrentou dificuldades ao se posicionar atrás do banco do passageiro, que estava ajustado mais para frente. O túnel central também é um pouco elevado, o que pode atrapalhar quem vai no meio. Mas levar crianças provavelmente não será um problema tão grande, até pelo ISOFIX , mas vale se atentar. 

No lado positivo, há saídas de ar, além de dois conectores USB-C para carregamento atrás. Outro ponto que pode agradar é o banco traseiro, que tem uma leve inclinação para trás, dando uma sensação meio de um sofá, como vemos em alguns carros da Honda.

O Corolla Cross também se destaca quando o assunto são obstáculos como buracos, valetas e lombadas urbanas - assunto que foi uma das minhas críticas na avaliação do sedã. Com seus 21° de ângulo de ataque e 36° de ângulo de saída , o modelo enfrenta essas situações com tranquilidade. Isso significa que passar por uma lombada ou valeta com um pouco mais de velocidade é uma tarefa fácil para o Corolla Cross.

Motor é o mesmo do que é visto no modelo sedã, tanto o 2.0 aspirado como o 1.8 híbrido
Luiz Forelli Santana/iG
Motor é o mesmo do que é visto no modelo sedã, tanto o 2.0 aspirado como o 1.8 híbrido

MECÂNICA ANTIQUADA E CONSUMO PIOR DO QUE O SEDà

A propulsão do Corolla Cross é a mesma utilizada no irmão. Isso significa que ele compartilha a mesma potência, torque e críticas. 

O motor a combustão, 1,8 litros aspirado flex (VVT-i 16V) do ciclo Atkinson , faz o Corolla Cross desenvolver 98/101 cv (G/E) de potência, entregando 14,5 kgfm de torque. Este propulsor trabalha em conjunto com dois motores elétricos (MG1 e MG2), localizados no câmbio, alimentados por uma bateria de níquel-hidreto metálico, situada sob o banco traseiro. Esses motores elétricos fornecem 72 cv de potência e 16,2 kgfm de torque. Fazendo o SUV entregar uma potência total de 122 cv em ambos os combustíveis. Embora o torque não seja divulgado, estima-se que seja em torno de 20 kgfm . Tudo isso é acoplado a um câmbio CVT que não simula nenhuma marcha. 

O tempo de aceleração de 0 a 100 km/h nos nossos testes foi o mesmo do sedã - 13 segundos , ao contrário dos 12 segundos divulgados pela montadora. Aliás, não há motivo para ser inferior, considerando que o peso de 1.450 kg é o mesmo. A velocidade máxima é de 170 km/h

O chamado ''marmita'' foi parcialmente resolvido com a alteração do escapamento e a pintura em preto; algo que não me incomodou, pouco eu via o escapamento com essa atualização
Luiz Forelli Santana/iG
O chamado ''marmita'' foi parcialmente resolvido com a alteração do escapamento e a pintura em preto; algo que não me incomodou, pouco eu via o escapamento com essa atualização

Assim como o irmão, o principal problema do Corolla Cross é o sistema híbrido, que é o mesmo do Toyota Prius de 2009 , ou seja, 14 anos atrás . Isso coloca o SUV médio atrás de muitos modelos híbridos mais recentes. 

Na estrada, notei que o motor "gritou" mais alto do que no sedã, e qualquer ultrapassagem se torna uma luta para o grandalhão. Na maioria das vezes, todos dentro do carro irão ouvir o ronco forte devido à alta rotação - o "grito" começa a ser audível após os 110 km/h. 

Já na cidade, o modelo se comporta um pouco melhor devido ao torque dos motores elétricos, que oferecem uma melhor aceleração graças ao torque mais alto.

Dianteira é robusta e apresenta grade musculosa com faróis full LED
Luiz Forelli Santana/iG
Dianteira é robusta e apresenta grade musculosa com faróis full LED

ECONOMIA RAZOÁVEL E TANQUE DE COMBUSTÍVEL PEQUENO 

A Toyota afirma que o foco do veículo não é o desempenho, mas sim a economia. No entanto, os meus números foram razoáveis. 

Meu ciclo apenas com etanol na cidade foi de 12,2 km/ l, enquanto na estrada foi de 9,7 km/l. Enquanto no trânsito da cidade de São Paulo alcancei 11,4 km/l, mas essa média pode ser melhor devido aos motores elétricos que trabalham em rotações menores. Todas as médias foram com o ar-condicionado ligado. 

Já as médias do Inmetro no etanol o SUV médio faz 11,8 km/l na cidade e 9,7 km/l na estrada . Enquanto com gasolina o modelo pode alcançar 17,8 km/l no ciclo urbano e 14,7 km/l no rodoviário. 

No entanto, é uma pena que a Toyota não permita que a bateria elétrica seja carregada por completo. Não compreendo isso. Quando faltam apenas dois "pininhos" para completar a bateria, o motor elétrico entra em funcionamento, impedindo o uso da carga total. Existe um botão na frente da alavanca do câmbio que permite ao condutor percorrer 4 km com o veículo utilizando apenas os motores elétricos. 

Traseira também é parruda e traz lanternas em LEDs
Luiz Forelli Santana/iG
Traseira também é parruda e traz lanternas em LEDs

Outra situação que não entendi foi a seguinte: mesmo com as baterias quase cheias e o motor a combustão aquecido, o Corolla Cross me permitia andar apenas com o motor a combustão, e caso eu tentasse ativar o modo elétrico, não era permitido. Isso fez com que minhas médias de consumo caíssem consideravelmente; essa situação ocorreu em dois dias comigo. 

E outro ponto negativo é o tanque de combustível que só aceita 36 litros . Isso mesmo que você leu. Enquanto o modelo a combustão possui 47 litros de capacidade. Nem o Renault Kwid , que possui 38 litros de capacidade , o menor entre os hatches compactos, tem um tanque tão pequeno assim. 

Isso resultou em uma autonomia de apenas 270 km no circuito cidade/estrada. Desta forma, rodei 140 km no ciclo urbano, e na rodovia percorri apenas 130 km, até que a luz da reserva aparecesse no painel. 

Falando em autonomia, nunca experimentei um carro com uma autonomia tão inexata. A luz de reserva acendia e, de repente, sumia - além do ponteiro de combustível que subia e descia em diversos momentos. 

A estimativa de autonomia ficava mudando a cada 10 km; subia excessivamente e caía drasticamente. Quando rodei os primeiros 50 km com o carro, chegou a marcar mais de 1.000 km de autonomia, depois desceu para 430 km e voltou a subir para 500 km. Isso me deixou inseguro ao dirigir. 

Modelo anda bem e rodagem é confortável, mas ''grito'' do motor incomoda de vez em quando
Divulgação
Modelo anda bem e rodagem é confortável, mas ''grito'' do motor incomoda de vez em quando

SENSAÇÃO AO VOLANTE

Dirigir o Corolla Cross é como experimentar mais uma engenharia mecânica japonesa característica, um típico carro da Toyota que se destaca mais pela familiaridade do que por grandes novidades. Apesar disso, por ser um SUV, o modelo apresenta suas peculiaridades que o distinguem em sua categoria. No entanto, há diferenças perceptíveis em relação ao irmão sedã.

O Corolla Cross roda bem e com suavidade, porém, notei que a calibragem do volante é um pouco mais dura em comparação ao sedã. Poderia ser mais leve, especialmente considerando seu porte e as manobras que precisam ser feitas.

Já a suspensão é nitidamente mais dura por não ser multilink como o irmão menor, e sim o simples eixo de torção na traseira. Já à frente é McPherson . Não que seja desconfortável, a altura do veículo e as rodas aro 18’’ com pneus 225/50 compensam ao passar em buraqueiras, porém essa rigidez resulta em impactos mais secos e uma sensação de trepidação maior na cabine ao passar por buracos, deixando o SUV menos suave em comparação com o Corolla. 

O desempenho em curvas é eficiente pelo seu tamanho. Ao entrar mais forte, o controle de tração e estabilidade segura o modelo, o que trouxe segurança ao realizá-las. O freio também se mostrou competente , graças aos discos ventilados na frente e sólidos na traseira. 

Além disso, o campo de visão é ampliado em comparação ao Corolla sedã , graças ao belo para-brisa e às grandes janelas. O isolamento acústico também merece destaque. Pouco se ouve do que ocorre fora do veículo. 

Sistemas do piloto automático, alerta e controle de faixa ficam no lado direito do volante
Luiz Forelli Santana/iG
Sistemas do piloto automático, alerta e controle de faixa ficam no lado direito do volante

SISTEMAS DE SEGURANÇAS SÃO PONTOS FORTES DO SUV

Já que comentamos sobre segurança, o Corolla Cross é campeão nesse assunto. O SUV japonês traz sete airbags de série, alerta de tráfego traseiro, alerta de ponto cego e TSS⁴ (Toyota Safety Sense) com controle adaptativo de velocidade de cruzeiro, assistente de pré-colisão com frenagem automática de emergência, sistema de alerta de oscilação, farol alto automático e sistema de alerta de mudança de faixa com controle de direção.

Esses recursos do Toyota Safety Sense foram inseridos em todas as versões no modelo 2023, o que é uma ótima notícia para quem procura a versão de entrada XR, de R$ 162.590 . No entanto, tenho minhas ressalvas em relação aos sensores dianteiros, que estão localizados apenas nas laterais. Não entendo o por que a Toyota optou por essa economia. Ou seja, o carro não emite alerta quando algo está diretamente à frente, somente nas laterais. 

Já o controle de direção em faixa, notei que o Corolla Cross parece ser mais eficiente do que o sedã. Ele tende a manter o veículo mais centrado na faixa, dando a sensação de querer centralizá-lo, embora ambos os veículos não possuam um sistema de centralização em faixa.

Lembrando que o Corolla Cross levou a nota máxim a nos testes de colisão do Latin NCAP , o que mais uma vez valida a excelência da engenharia de segurança da Toyota. 

Interior é praticamente o mesmo do que vemos no sedã, com diferença no cluster, base central e acabamento
Luiz Forelli Santana/iG
Interior é praticamente o mesmo do que vemos no sedã, com diferença no cluster, base central e acabamento

INTERIOR MERECIA MAIS

O interior do Corolla Cross deixa a desejar em relação ao sedã , com poucas mudanças perceptíveis e algumas áreas que carecem de atualização. Um dos exemplos está no acabamento, pois enquanto o Corolla apresenta um painel soft-touch, o Cross utiliza predominantemente plástico duro. Embora seja de boa qualidade, a presença de plástico é evidente, inclusive nas portas, enquanto o sedã leva preto brilhante.

O painel de instrumentos também é mais modesto, com uma tela de 7 ’’ no centro e mostradores analógicos de combustível e rotação do motor aos lados, enquanto o sedã já oferece uma tela 100% digital de 12,3 ’’ . No entanto, é esperado que o próximo facelift corrija essa disparidade.

Colocar freio de mão no pé é um dos grandes incômodos do Corolla Cross
Luiz Forelli Santana/iG
Colocar freio de mão no pé é um dos grandes incômodos do Corolla Cross

Quanto ao sistema multimídia, embora o Waze tenha se comportado melhor, ainda enfrentei problemas de desemparelhamento, o que exigia eu parar o veículo, desligar, abrir a porta e ligar novamente para reiniciar o sistema. A interface também não apresenta grandes modificações e ainda carece de intuitividade em relação ao carro. A tela de 10,5 ''  suporta conexões sem fio para Apple CarPlay e Android Auto. O ar-condicionado é de duas zonas.

O destaque mais do que negativo que não poderia ficar de fora é o freio de estacionamento no pé , que é antiquado e fora de lugar em um carro moderno. Felizmente, espera-se que o novo modelo traga o freio de estacionamento eletrônico com o auto-hold embutido, juntamente com um carregador por indução, recursos ausentes neste modelo 24/24. 

O ajuste elétrico dos bancos está presente apenas para o motorista. Em todos os trajetos senti eles confortáveis, me abraçando bem, mesmo em viagens mais longas. Na versão topo de linha, o Corolla Cross oferece teto solar convencional, mas o próximo facelift promete um teto solar panorâmico. 

Bancos são revestidos em couro sintético
Luiz Forelli Santana/iG
Bancos são revestidos em couro sintético

Em resumo ao interior, a falta de originalidade em relação ao Corolla sedã é grande, resultando em um interior praticamente idêntico, mas com algumas desvantagens evidentes. Portanto, pagar R$ 12.500 a mais por um interior inferior e menos equipamentos pode não ser a melhor opção para todos os consumidores.

RESUMINDO A ÓPERA

Optar por um Toyota sempre será uma escolha racional em termos de confiabilidade. Os modelos híbridos, especialmente, oferecem uma vantagem ao aceitarem etanol, além de garantirem baixa desvalorização, uma excelente revenda além da ótima segurança a bordo. O Corolla Cross incorpora a simplicidade da marca Toyota , aliada às mais recentes tecnologias, como ADAS, chave presencial, espelhamento sem fio, faróis com comutação automática, entre outros.

No entanto, o veículo apresenta algumas deficiências, especialmente em termos de equipamentos, área em que alguns concorrentes, principalmente os chineses, se destacam. É difícil saber que com R$ 3 mil a mais é possível levar um GWM Haval H6 PHEV com muitos mais equipamentos, espaço e tecnologia de ponta. 

Pagar R$ 210.990 por um carro antiquado e defasado em relação ao seu irmã o R$ 12.500 mais barato não parece justificável. Em diversos aspectos, como espaço, dirigibilidade, economia, conforto e equipamentos, o Corolla sedã supera o Cross. Apenas a altura e campo de visão pode ser algo a se explicar. Talvez seja mais sensato aguardar a próxima reestilização, prevista para chegar em breve ao Brasil, antes de considerar a compra do Cross. Apesar disso, não se trata de uma escolha ruim, apenas uma opção que fica aquém do que o mercado oferece.

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