Enfrentar o dilema de escolher entre um carro novo, porém menos equipado, ou um seminovo mais completo é uma realidade com a qual muitos se deparam ao buscar um veículo. No mercado automotivo brasileiro, os preços dos zero km tendem a desafiar o bolso dos consumidores, levando muitos a considerar alternativas de segunda mão. Quando lançado, em 2017, o Renault Kwid partia de R$ 29.990 , hoje não sai por menos de R$ 72.640 na versão de entrada Zen.
Porém, muitos ainda não dispensam a ideia de ter um exemplar que acabou de sair da fábrica, tanto para o dia a dia como para frotistas. É nesse contexto que o Renault Kwid Intense se destaca. O hatch de entrada oferece um pacote até generoso para um carro de entrada e contra seus concorrentes diretos, como Citröen C3 Live Pack (R$ 80.990), já testado aqui , e Fiat Mobi Trekking (R$ 74.990).
Trazendo itens como ar-condicionado, direção assistida, bancos com couro, retrovisores com ajuste elétrico, travas elétricas, e até mesmo um sistema multimídia com emparelhamento de celular e câmera de ré, o Kwid Intense mostra-se uma opção tentadora por R$ 75.530, apenas R$ 2.890 de diferença com o modelo de entrada. Porém, a pergunta que ecoa é inevitável: será que o investimento em um zero km, por mais básico que seja, ainda vale a pena?
DESIGN E DIMENSÕES
No início de 2022, o Renault Kwid passou por um facelift que deu um fôlego à sua dianteira e renovou partes do veículo que se mantinham desde o lançamento.
Os faróis bipartidos, com luzes diurnas de LED na parte superior estão presentes em todas as versões (Zen, Intense, Intense Pack Biton e Outsider), enquanto os faróis principais incandescentes ficam logo abaixo. A reformulação do para-choque frontal inclui uma nova entrada de ar na parte inferior, e a grade frontal ganhou novos detalhes cromados e filetes, dando ao Kwid uma expressão mais alegre e fofo.
Nas laterais, as rodas são de 14 polegadas com pneus 165/70, pode não parecer, mas o modelo usa calotas que dão a impressão de serem rodas de liga leve; elas permanecem com três parafusos para os haters de plantão. Na parte traseira, as mudanças são sutis, com apenas uma atualização no grafismo, que ganhou LED nas versões Intense, Intense Pack Biton e Outsider, além da inclusão de refletores
As dimensões permanecem as mesmas desde o lançamento. O Renault Kwid tem 3,68 m de comprimento, 1,57 m de largura, 1,47 m de altura e 2,42 m de entre-eixos. Em comparação, o Fiat Mobi possui 3,56 m de comprimento, 1,66 m de largura, 1,52 m de altura e 2,30 m de entre-eixos. Quanto ao porta-malas, são 290 litros contra 200 litros respectivamente.
Não preciso nem dizer que atrás eu quase não coube. Com 1,88 m fiquei com a cabeça raspando e as pernas quase impediam o fechamento da porta. Obviamente com o banco quase todo para trás. Uma criança de 1,60 m, com o banco ajustado para mim, também não ficou muito confortável. O jeito foi sentar no meio para as pernas ficarem mais confortáveis.
MOTORIZAÇÃO E SENSAÇÃO
O facelift do Renault Kwid trouxe algumas melhorias, embora não tenha incluído o esperado motor 1.0 SCe do Sandero. O hatch permaneceu com o motor 1.0 de três cilindros, que recebeu ajustes na calibração, central eletrônica e sensor de fase, resultando em um aumento de potência de 2 cv na gasolina e 1 cv no etanol . Desta forma, o Kwid saiu de 66/70 cv (G/E) para 68/71 cv (G/E). O torque também foi aprimorado, agora produzindo 9,4 kgfm na gasolina e 10 kgfm no etanol.
Dirigir o Kwid na cidade é agradável em termos de aceleração, embora não tão ágil quanto o Citroen C3. O torque, especialmente com etanol, proporciona boas tocadas e respostas, mas a caixa de câmbio (de cinco velocidades) às vezes apresenta engates indevidos, como colocar primeira marcha ao invés de terceira - senti o espaço entre elas um pouco pequeno. Isso ocorreu algumas vezes comigo, algo que não tive no C3 devido ao seu alinhamento mais calibrado. Mas é apenas uma questão de adaptação.
A embreagem do Kwid não é tão bem calibrada quanto a do C3. Ao pisar até o “ponto”, a embreagem treme bastante o carro, principalmente em primeira marcha. Parece até que irá desmontar como um “Lego”. Porém, algo que me impressionou foi a capacidade do Kwid de ligar automaticamente ao pisar na embreagem, caso o carro morra, dispensando a necessidade de girar a chave. Isso é maravilhoso e uma inveja para os concorrentes!
Na estrada, é um típico modelo 1.0 aspirado. O Kwid é lento e enfrenta dificuldades em qualquer ultrapassagem. Em velocidades altas, como 120 km/h, ou um pouco mais, o modelo começa ficar instável nas retas, não trazendo nenhuma sensação de segurança. Além disso, o isolamento acústico é péssimo. O hatch emite muito ruído dentro da cabine com o barulho do motor invadindo, o som das rodas sobre o asfalto se destacando e até barulho de plástico. É tão alto que é difícil até mesmo manter uma conversa - é preciso falar alto, ou colocar o som quase no último volume.
Voltando para a cidade, algo que precisa ter muita atenção é o sistema start-stop. Geralmente encontrado apenas em carros de luxo, a Renault fez questão de incluí-lo no Kwid , o que deixa o hatch bem mais econômico - não é por acaso que o Renault Kwid é o carro mais econômico do Brasil. O sistema desliga o motor automaticamente quando o veículo está parado, contribuindo, e muito, para a economia de combustível. Na hora de ligar, as partidas não são nem muito suaves nem muito bruscas - é algo que não causa incômodo.
Essa pequena mudança teve um grande impacto no meu consumo de combustível. Utilizando apenas etanol, minhas médias foram de 14,1 km/l na cidade sem trânsito , 14,5 km/l na estrada e 11,5 km/l no trânsito da cidade de São Paulo. É algo impressionante em comparação com os números do Inmetro de 10,8 km/l na cidade e 11 km/l na estrada com etanol. Na gasolina, o instituto divulga 15,3 km/l no ciclo urbano e 15,7 km/l no rodoviário.
Os freios são razoáveis. Na frente, o Kwid oferece freios a disco sólidos, enquanto na traseira são freios a tambor. Eles têm uma sensibilidade boa, mas em freadas mais bruscas, a sensação de segurança não é tão forte. Todavia, o carro para rapidamente, especialmente considerando seu peso de 820 kg , o que ajuda bastante nessas situações. Lembrando que o Kwid já teve reclamações sobre os freios em sua estreia.
Em curvas, o carro até se comporta bem, graças ao peso e ao controle de estabilidade que faz um bom trabalho. Mas em velocidades mais altas, parece que o veículo irá capotar . A suspensão é um ponto fraco, principalmente nas ruas esburacadas de São Paulo, onde há um buraco a cada esquina. Cada impacto é sentido de forma bem seca, e dá a impressão de que o carro vai se desmontar a cada buraco que passa. Mas novamente, estamos falando de um carro “de entrada”, então é compreensível.
Tirando esses pontos de ressalva, dirigir o Renault Kwid é bem agradável. O volante é pequeno e leve, e o bom torque contribui para essa sensação.
INTERIOR E TECNOLOGIA
O Renault Kwid não deriva de muito conforto e muito menos de tecnologia. Mas há grandes elogios, considerando que se trata de um dos carros mais básicos do Brasil, projetado para manter os custos mínimos.
O acabamento é todo em plástico, sem nenhum toque aconchegante nas portas ou em qualquer outro lugar. A qualidade do plástico não é excepcional, mas também não é péssima. Os encaixes são razoavelmente bem-feitos, comparáveis ao Citröen C3. Embora haja poucas rebarbas, o apoio de braço é bem pequeno. Além disso, não há apoio de braço central nem porta-luvas. Os porta-copos são pequenos e só cabem garrafas pequenas de até 1 litro; estão localizados nas portas e perto do porta-objetos. Falando em porta-objetos, há um espaço na frente da alavanca de câmbio para guardar itens do dia a dia.
O banco é desconfortável, especialmente para pessoas grandes como eu. Assim como no C3, o excesso de espuma pode ser desconfortável para as costas. Uma pessoa de estatura menor pode se sentir mais confortável. No entanto, a falta de bordas no banco contribuem para uma sensação de soltura.
Um aspecto interessante é que o Kwid combina tecido com imitação de couro, algo que não é comum em carros dessa categoria. Além disso, o design do banco é jovem, com costuras em azul.
A ergonomia deixa a desejar, pois não há ajuste de altura no banco nem no volante. Isso torna difícil encontrar uma posição de condução minimamente confortável.
O volante não tem revestimento, sendo feito apenas de plástico, mas é agradável de segurar, principalmente devido à sua leveza da assistência elétrica (Fiat Mobi possui assistência hidráulica). Além disso, o tamanho pequeno garante uma boa empunhadura. Na parte inferior do lado direito, como é de costume nos carros da Renault , há os controles do multimídia.
O painel de instrumentos é visualmente bonito, com cores em azul, aliás, uma grande melhoria em relação ao modelo anterior. No entanto, o conta-giros tem uma escala limitada, indo apenas de 500 em 500 rpm. Mesmo assim, é uma vantagem ter um conta-giros, algo que alguns carros mais caros não oferecem, como o próprio C3 ou o VW Polo Track . Há também uma tela de tamanho razoável (maior do que a de uma Hilux) no centro do painel, que fornece informações úteis, como a velocidade em km/h, a pressão dos pneus (em PSI), litros de combustivel gastos na viagem e até indicação para troca de marchas.
O multimídia de 8 polegadas é bem eficaz nas respostas e tem uma qualidade mediana. No entanto, em meu ver, é um dos maiores pontos que o Kwid ganha. Além de uma tela grande, quase de um CR-V em polegadas, ela ajuda muito ao estacionar pela câmera de ré e o melhor: Android Auto e Apple CarPlay com fios. Além disso, é possível ver sua pontuação em relação a economia do veículo (Eco Coaching e Eco Scoring).
SEGURANÇA
O Kwid entrega controle de estabilidade e tração, quatro airbags (dianteiros e laterais), assistente de partida em rampa e alerta de frenagem. Ou seja, o Kwid oferece mais do que a legislação manda, como os dois airbags laterais, algo que seus concorrentes diretos não oferecem nem nas versões mais caras.
RESUMO DA ÓPERA
O Renault Kwid , certamente, se destaca como a opção mais equilibrada para quem busca um carro zero km ‘’de entrada’’. Apesar de sua simplicidade no acabamento, como os rivais, oferece um conforto intermediário entre modelos como o Citroën C3 e o Fiat Mobi , com um espaço adequado no porta-malas, mas um aperto na traseira. O destaque, sem dúvida, é o interior que carrega bons equipamentos, especialmente na versão Intense, que é R$ 2.890 a mais em relação à versão Zen.
O motor traz bons ajustes e calibração na cidade. Realmente, em estradas, é difícil defender o hatch compacto. A falta de equilíbrio em retas e o barulho interno bem prejudicado não fortalece nesse quesito. O Citroen C3, sem dúvida, leva a melhor no quesito dirigibilidade. Porém, a economia do Kwid é de bater palmas.
Já o custo-benefício entre os concorrentes, o Kwid é marcado como a melhor opção para diferentes perfis de compradores, desde famílias (pequenas) até frotistas com escada no teto e locadoras. Para particulares, especialmente na versão Intense , oferece uma excelente harmonia entre preço e recursos. Ele até era marcado por críticas, mas seu facelift deu uma repaginada em diversos aspectos. Por isso, vejo o Renault Kwid como uma ótima opção entre os zero km ‘’de entrada’’, tanto por seguro, revisões e peças baratas, quanto pelos concorrentes na faixa de preço. Resumindo, vale.
Ficha técnica:
Motor: flex, dianteiro, transversal, 3 cil., 12V, 999 cm³, 68/71 cv a 5.500 rpm, 10,0/9,4 kgfm a 4.250 rpm
Câmbio: manual, cinco marchas, tração dianteira
Direção: elétrica, 10 m (diâmetro de giro)
Suspensão: McPherson (dianteira), eixo rígido (traseira)
Freios: disco ventilado (dianteira), tambor (traseira), ABS
Pneus: 165/70 R14
Peso: 820 kg
Dimensões: comprimento, 368,0 cm; largura, 157,9 cm; altura, 147,9 cm; entre-eixos, 242,3 cm; porta-malas, 290 l, tanque, 38 l