A Renault está toda prosa. Após apresentar seu novo SUV Kardian , a picape Niagara , e seus novos planos globais, uma estratégia chamada de Renovation, a marca também promoveu coletivas com três dos seus principais executivos: Fabrice Cambolive, CEO Global da Renault, Luiz Fernando Pedrucci, CEO da Renault América Latina, e o Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil. Foi uma chance dos jornalistas conversarem sobre os planos da marca francesa.
Carros elétricos no Brasil
Sobre a possibilidade de produção de um carro elétrico no Brasil, Pedrucci foi direto ao ponto, afirmando que a indefinição de regras e a dificuldade de concorrer em pé de igualdade com a China são dois dos maiores empecilhos. "Nós precisamos entender qual é a direção temos que ter para o Brasil, se ele quer ser importador ou produtor de veículos. Não temos medo de competição, está no nosso DNA. Se o governo diz que deseja ser importador, não tenho porque fabricar aqui".
A marca importa uma gama variada de modelos elétricos, uma linha E-Tech que vai do Kwid , passa pelo Megane e chega ao Kangoo.
Quanto às regras do jogo, Pedrucci fez uma comparação futebolística. "Só que a gente tem que garantir que está jogando o mesmo jogo. Eu não posso entrar para jogar um jogo que tenho que jogar futebol com 11 jogadores nas regras e, do outro lado, o jogador está jogando com 14 jogadores e eles podem tocar a bola com a mão".
O executivo líder da Renault América Latina lembra que não tem como competir com as chinesas como importadoras: "não dá para produzir 8 horas por dia, por 5 dias por semana, contra alguém que produz 11 horas por dia, 6 dias por semana".
A chegada de fabricantes nacionais de elétricos e híbridos não amedronta a Renault. "Eu acho muito positivo, como brasileiro, ver a chegada de novos fabricantes, BYD , Great Wall, isso é muito positivo para o país, para a nossa indústria, isso amplia o parque de fornecedores. Nesse caso, quando eles implantam no Brasil, estão jogando no mesmo terreno de jogo que eu. Não temos medo de competir, mas desde que a regra seja a mesma. Tem a mesma infraestrutura logística que eu tenho, o mesmo sistema de tributação que temos".
O ritmo de eletrificação também foi discutido. "Do ponto de vista da eletrificação, é algo que vemos uma evolução prevista no mercado brasileiro e no latino americano. Na nossa visão, vai ter primeiro um movimento muito forte na hibridização antes da eletrificação, que anda em paralelo", analisa Pedrucci.
Aqui vale reforçar que o Kardian não terá versão elétrica, mas nada impede um sistema híbrido leve. Já os carros maiores da nova plataforma terão configurações híbridas paralelas, entre outras.
SUVs médios e grandes de variados formatos e tamanhos
Ter SUVs acima do Kardian e Duster está mais do que nos planos da Renault. São oito carros previstos, uma gama que vai incluir segmentos de utilitários e picapes. "O segmento C a Renault não tem uma oferta, então a gente está trabalhando em projetos que poderiam estar aí nesse segmento", afirmou Ricardo Gondo, em entrevista. Entre outras perguntas, o líder brasileiro descartou a Alaskan.
"Eu acho que SUVs maiores também estão no nosso plano. Eu acho que, para mim, o que é importante em países não europeus é aumentar a nossa cobertura do mercado, porque ela era, no início, toda focada nos segmentos B e C. Temos que cobrir também o C Plus, ou mais um de 4,5 metros, claro que faremos isso. Eu acho que a Niagara é um bom exemplo da nossa capacidade de ir nessa direção", indica Camboliv. É um comprimento próximo aos do Jeep Compass e Toyota Corolla Cross .
Em relação a um possível SUV de sete lugares, Gondo garante que eles poderiam pensar em um projeto, mas que tem que ser levada em consideração uma equação entre volume, lucratividade, entre outros.
Camboliv também comentou o assunto. "Eu acho que carros sete lugares são propostas interessantes e não excluímos carros de sete lugares, pois na Índia nós temos um carro chamado Triber , que é pequeno, mas tem sete lugares. Tivemos um grande sucesso. Na Europa, temos a Espace. É uma oportunidade e eu diria que não é o núcleo em termos de volumes, mas é uma oportunidade que podemos considerar, dependendo do país e do modelo". O Triber usa a plataforma do Kwid, no entanto, está descartado para o nosso mercado.
Os SUVs de segmento C também podem vir em outros formatos de carroceria, não se trata apenas da possibilidade de um de 7 lugares. Um deles pode ser um cupê, um modelo nos moldes do Volkswagen Nivus, Fiat Fastback e, para citarmos um carro que ainda não chegou, o futuro C3 Aircross cupê.
Quanto aos segmentos acima do C, o CEO Global adiantou que carros do segmento D (se for um SUV, seria algo como um Jeep Commander) também serão construídos sobre a mesma base do Kardian.
Duster e a Oroch permanecerão em linha
Mesmo com a apresentação do conceito da Niagara, uma picape do porte da Fiat Toro, a Oroch não será descontinuada. "Faz pouco tempo que fizemos o facelift, tanto externo quanto o interior, e também introduzimos um novo motor", adianta Ricardo Gondo, presidente da Renault Brasil. A veterana tem 4,70 metros, enquanto o conceito mede 4,90 m, o que dá um certo espaçamento.
O executivo lembra ainda que a picape tem uma versão para trabalho, a Pro, uma configuração 1.6, simples ao ponto de usar rodas de aço, um toque presente em vários utilitários "profissionais". Concorrendo em uma fatia de utilitários cabine dupla de acesso, o modelo continuará tendo seu espaço.
Outra dúvida era sobre a permanência do Duster pós-Kardian. O executivo analisa que há espaço para ambos. "O que a gente pensa é que são clientes muito diferentes. O cliente do Duster procura espaço, está menos focado em tecnologia, busca um carro que transmite mais robustez". O SUV estaria garantindo por alguns anos.
Ou seja, ambos permanecerão por um bom tempo no mercado, algo garantido até pelo CEO Global.
Um tema ouvido foi que a Renault quer ganhar participação, mas sem deixar de investir nas suas fortalezas. O Duster e o Kwid são provas disso. A despeito do Captur ter se despedido, o hatch subcompacto e o SUV médio pequeno se manterão em linha por um tempo.
"O Kwid vendido no Brasil continua sendo feito no Brasil", reforça Gondo. A mudança de parte da produção para a Colômbia é mais para o abastecimento local e facilidade de exportação para mercados do oceano Pacífico.
"Desde o início tivemos uma liderança no segmento A, segmento que responde por 7%. Depois você tem o segmento que chamamos de entrada dos B hatches, os hatches com motor 1.0 aspirado. Tem clientes que preferem comprar um carro do segmento A mais equipado e moderno do que ficar no segmento do B hatch", esclarece Gondo.
Fabrice Camboliv segue o mesmo caminho e reafirma a sobrevivência do Sandero. "O Kardian não tira o Sandero de linha, isso significa que estaremos presentes com o Sandero, só reduzimos a oferta de motores. Jogaremos nos dois segmentos".
Sedãs não morreram, mas terão que mudar
Ao ser indagado por outro jornalista, Cambolive foi esclarecedor sobre um formato de carroceria que poderia ser abandonado: os sedãs."Eu acho que, no futuro, nós teremos que ser cuidadosos com aerodinâmica do carro, temos que reinventar novas carroceria, não sabemos se é um sedã, um monovolume, um liftback ou um cupê, mas certamente teremos que reinventar novas carrocerias. É por isso que digo que os sedãs não estão mortos", esclarece Camboliv.
É sabido que os sedãs costumam ter o melhor compromisso entre consumo e aerodinâmica. Transformá-los em cupê ou três volumes disfarçados poderia ser um movimento. No entanto, nada impede que seja criado um veículo mais elevado, caso em que o formato aerodinâmico poderia compensar um pouco a altura maior do solo, problema que atrapalha a aerodinâmica.
Kardian não será vendido na Europa
A marca já confirmou que o Kardian também será feito em Marrocos, o que levantou a expectativa que dali fossem exportados carros para o mercado europeu. Contudo, não será assim. Segundo o CEO global, as exportações serão para o norte da África, Oriente Médio e, possivelmente, Oriente. Estamos falando de países como Índia ou Turquia. Na Europa, a marca já tem uma linha na faixa do segmento do Kardian, no caso, o Captur, mas ele é diferente e mais sofisticado do que o SUV que saiu de linha aqui.