Picos de endorfina revelam o nosso verdadeiro comportamento. Ainda mais quando estou no Auttódromo Velo Città, circuito que tenho o privilégio de conhecer como a palma da mão. Mas acredite, alguns não foram capazes de arrancar um simples sorriso de canto de boca. Na maioria das vezes, estava assustado demais para aproveitar. Não é o caso deste Honda Civic Si.
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A Honda juntou tudo que deu certo na oitava geração com o estilo arrojado da nona. Se algo ficou faltando naquela época, já não falta mais. Tive a oportunidade de dirigir a antiga geração, um belo cupê laranja com motor 2,4, aspirado, de 206 cv e 23,9 kgfm a 4.400 rpm. A sensação foi ótima, mais pela atenção que estava chamando na rua que desempenho. Ainda faltava aquela brutalidade visceral que a oitava geração do Honda Civic Si entregava, como um chef de cozinha que gosta de exagerar na pimenta.
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Aliás, esqueça o “ chef ” mencionado no parágrafo anterior. O espírito do Si é ser um esportivo raiz, sem qualquer frescura ou temperos desnecessários. Se o seu paladar for mais requintado, você provavelmente apostará no Volkswagen Golf GTI com transmissão DSG. No caso do Honda, um câmbio manual. Isso justifica a pontualidade de classificar o Si como “raiz”.
Se você é fã daquele modelo de oitava geração e sua performance inigualável, saiba que a Honda apostou muito mais no equilíbrio que na força bruta. O novo Civic Si está mais balanceado do que nunca, e dá para conferir isso na íntegra no vídeo abaixo. Com algumas dicas do piloto Luiz Razia, um leigo consegue traçar uma volta até que razoável. Não dá para grudar no banco concha disponível apenas em tecido nas aceleradas mais bruscas ao longo da reta, mas é possível caprichar nas curvas com certa facilidade. O Si traz ainda discos de freio de 12,3 polegadas na dianteira e pneus 235/40 R18.
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Em complemento aos amortecedores adaptativos, os engenheiros da Honda instalaram molas mais firmes e barras estabilizadoras mais rígidas (30% a mais na dianteira e 60% a mais na traseira). Há também buchas sólidas na dianteira e traseira, braços de controle ultra rígidos na traseira, vindas diretamente do Civic Type R.
Cortando o giro
Não vou mentir, torci o nariz quando descobri que o Civic Si viria ao Brasil com um conjunto mecânico semelhante ao da versão Touring. “O que eles estão pensando?”, dizia em voz alta. O motor 1.5 turbo - o primeiro sobrealimentado na história do Si - foi recalibrado para saltar dos 170 cv aos 208 cv de potência e 26,5 kgfm de torque, dispostos em toda a faixa útil do motor. Mas acredite, o que este Honda tem para entregar vai te deixar pasmo, sem fazer qualquer relação com o modelo convencional. Nunca mais duvidarei do que esses japas são capazes.
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Ele está mais longo e mais baixo, e isso contribui diretamente em sua dinâmica de pista. A estrutura é 25% mais rígida que a geração anterior, acrescentando uma desenvoltura torcional ainda melhor que a geração anterior. Também houve um aprimoramento no sistema de admissão, garantindo melhor balanço da unidade. Deu para sacar o que o time de engenharia estava planejando? Um carro muito mais desenvolto em sua dinâmica que na potência.
O fato da Honda ter instalado um motor turbo não faz o carro fugir às origens. Se você não trocar de marcha na hora certa, o Si cortará o giro. Descendo a reta dos boxes, é possível desenvolver cerca de 120 km/h até a primeira curva na terceira marcha. Uma simples redução e tenho fôlego suficiente para fazer o traçado de pé embaixo. Como você pode ver no vídeo acima, há um carro madrinha na pista. No caso, um WR-V preparado, de 170 cv de potência. A pedido da Honda, não poderia me aproximar muito dele para manter a distância segura.
Decido acionar o modo Sport . Os amortecedores trabalham com mais carga, enquanto a resposta de acelerador fica mais direta e a direção, por sua vez, tem a sua assistência reduzida, tornando a conexão do condutor ainda mais visceral e intensa.
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A trambulação é uma delícia, e as marchas bem escalonadas. Sinto que o corte de giro poderia ser feito em rotações um pouco mais elevadas para despertar tudo que este Si tem a entregar. Fica a impressão de que o carro tem mais chão do que motor, um deleite para os preparadores. Nesse sentido, o seu eterno rival Golf GTI tem comportamento mais violento.
Violento?
A violência nem chega a ser um tópico quando falamos de um esportivo tão equilibrado como este cupê. O Si anda na linha tênue entre o refinado e o espartano. Seu câmbio manual é o que divide o Civic Si dos esportivos " Nutella ”. Num mundo que está cada vez mais chato, é bom acelerar um cupê passional como ele na pista, tendo 100% do controle nas suas mãos e não nas aletas atrás do volante.
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O cupê da marca japonesa acelera de 0 a 100 km/h em 7,2 segundos, não tem bancos de couro e leva apenas duas pessoas. Custando R$ 159.990, fica fácil coçar o queixo e partir direto para o Volkswagen Golf GTI 2.0 de 220 cv de potência, por R$ 134.870. Apesar de ser um dos nossos carros favoritos, continua sendo um Golf em sua essência. O Honda Civic Si tem visual exclusivo e arrojado, e é também o único esportivo com câmbio manual nessa faixa de preço.
Ficha técnica
Preço: R$ 159.990
Motor: 1.5 turbo, quatro cilindros
Potência: 208 cv
Torque: 26,1 kgfm
Transmissão: manual de seis velocidades
Suspensão: independente (dianteira), multibraço (traseira)
Freios: disco de 2,3 polegadas (dianteira), sólido (traseira)
Pneus: 235/40 R18
Dimensões: 4,5 m (comprimento), 1,8 m (largura), 1,3 m (altura), 2,7 m (entre-eixos)
Tanque: 47 litros
0 a 100 km/h: 7,2 segundos
Vel. máx: 238 km/h