Embora tenha mantido o nome e alguns pontos do modelo anterior, o fato é que o Ford Territory de nova geração é um produto bem mais evoluído. Junto com essa evolução, veio também um upgrade na sua pretensão de vendas. Longe de ser um carro trazido em lotes pontuais, o SUV será importado de maneira contínua, algo que vai ajudá-lo a concorrer com o Compass e o Commander.
Diante da realidade astronômica do mercado, os jornalistas ficaram impressionados quando foi anunciado o preço de R$ 209.990. Um bom valor diante dos R$ 238.590 do Jeep Compass S, versão que concorre diretamente com o Territory, que ficou maior e também enfrenta o Commander Longitude (R$ 232.290) e Limited (R$ 249.190).
O objetivo também é conquistar clientes do Jeep maior. "O nosso principal concorrente é o Commander, mas para quem não precisa de sete lugares", afirma Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford na América do Sul. Chamado de Equator Sport em outros mercados, o modelo ainda tem a variante Equator de sete lugares, que é equipada com motor 2.0 turbo e não está prevista para o Brasil.
Claro que há outros modelos de sucesso no segmento, incluindo híbridos, exemplos do Toyota Corolla Cross , que perde em alguns quesitos, mas oferece motor 1.8 híbrido na versão XRX Hybrid (R$ 210.990), do GWM Haval H6 (R$ 214.000), e do Caoa Chery Tiggo 8 Pro plug-in (R$ 239.990) - o Tiggo Max Drive convencional custa R$ 189.990 .
DESIGN MAIS AGRESSIVO
Totalmente renovado, o design externo tem pontos que remetem a outros projetos chineses, especialmente os SUVs da Caoa Chery . Não é de se estranhar a semelhança, dado que o Territory foi projetado em conjunto com a JMC, a mesma fabricante que projetou a geração passada, sem ter muita semelhança com os utilitários americanos da Ford, um rol que inclui o Bronco, Bronco Sport, Edge e Escape.
O conjunto ótico é dividido em duas partes, algo que se tornou cada vez mais comum de uns bons anos para cá. A grade se projeta à frente e tem design tridimensional que utiliza elementos parecidos com elos de metal. Abaixo dela, o para-choque se vale de ângulos bem recortados para dar maior arrojo. No final, a impressão é que o conjunto ficou bem vertical e agressivo.
As laterais têm vincos bem demarcados, incluindo aí os para-lamas traseiros arqueados ao ponto de aparecerem em destaque na visão dos retrovisores. Já a traseira exibe lanternas horizontais de LEDs bem tridimensionais. A enorme tampa é "quebrada" pelo espaço para a placa. Por sua vez, o para-choque imita um extrator e tem lâminas metalizadas nas pontas inferiores.
COMO É POR DENTRO
No interior, pontos como abundância de cromados, um botão de partida um tanto simples - no lado direito da coluna de direção - e apliques que imitam madeira não são incomuns entre os SUVs chineses. Os materiais mais foscos/acetinados se tornaram padrão em muitos desses detalhes, o que ajuda a não marcar impressões digitais com facilidade, caso do botão de partida.
É difícil individualizar para um mercado ocidental um projeto criado para aquele país sem gastar horrores e tirar a competitividade do produto. Afinal, ele tem que competir com os modelos da Jeep, todos criados com o mercado brasileiro mais em mente. E o preço é um fator chave.
A despeito disso, o acabamento tem bom nível . O painel apresenta revestimento emborrachado e apliques que imitam costuras duplas. Os painéis de porta dianteiros e traseiros são macios, um carinho que se tornou incomum em modelos médios não premium. Bancos, volante e insertos nas portas são revestidos de couro sintético em tom azul e também cinza. Até a tampa do porta-luvas tem acionamento macio e preciso. Somado ao bom isolamento acústico, o ambiente da cabine do Territory é agradável.
O quadro de instrumentos e a central multimídia têm boa resolução, mas não fazem parte da família de centrais Sync de outros carros da Ford , sem oferecer a mesma facilidade de acesso aos recursos que o excelente multimídia ocidental da marca entrega. Mudar a visualização de um recurso ou procurar uma função exigirá mais trabalho.
Por exemplo, a exibição dos mostradores muda de acordo com o modo de condução selecionado, mas, no esportivo, o conta-giros se torna uma faixa no lado direito do visor, enquanto o normal exibe o instrumento da maneira tradicional - o visor digital sempre indica em um dígito a rotação (exemplo: 1.000 rpm vira 1.0 x 1.000 rpm), um pouco incômodo, ainda mais por não ter um botão de atalho. Por outro lado, ter os comandos do ar-condicionado por botões físicos facilita a vida.
Quanto ao som e conectividade, as portas USB-A e USB-C ficam no console vazado, o que dificulta a colocação de cabos, embora seja uma solução estilosa. Um inconveniente que é compensado, em parte, pela enorme bandeja de carregamento sem fio de smartphones - você pode trocar por um aparelho maior sem medo . A reprodução sonora do sistema de entretenimento de oito alto falantes é muito boa, sem distorções.
No capítulo ergonomia, a posição de sentar é naturalmente elevada . Mesmo no estágio mais baixo, os limites do capô continuavam na minha linha de visão - o que é bom. Com 1,84 metro de altura, ainda sobrou um espaço razoável da minha cabeça até o teto. Somente pessoas mais altas talvez se incomodem mais. Se fosse um automóvel convencional, seria um ponto crítico, porém, trata-se de um SUV. Os ajustes de posição elétricos e a regulagem manual de altura e de distância do volante são bem amplos, o que ajudou e muito a dirigir de maneira agradável. Os bancos dianteiros são confortáveis e oferecem bom apoio para costas e coxas, além de serem ventilados.
No entanto, o melhor está no banco traseiro. A grande altura dos bancos dianteiros libera um bom espaço embaixo deles, o que permite acomodar muito bem os pés. É bem mais espaçoso que o Compass . Como em quase todo carro moderno de uma fatia de preço um pouco superior, o encosto central tem um apoio de braço embutido, mas, sem ele, o conforto de um passageiro central traseiro seria perfeito, uma vez que o piso ali é quase que inteiramente plano. O acesso também é facilitado pelas portas de ampla abertura e pela linha do teto de caimento normal, o que dispensa a necessidade de baixar muito a cabeça para entrar. Para não dizer que tudo é ótimo, poderia haver mais uma porta USB para quem vai atrás - a que tem é do tipo A. Pelo menos, há saídas de ar-condicionado.
Tamanho espaço interno é explicado pelo tamanho. O Territory tem 4,63 metros de comprimento (5 centímetros a mais do que a plataforma antiga) e amplos 2,72 m de entre-eixos (1 cm a mais), 9 cm a mais do que o Compass e sete a menos que o Commander.
Na transição de uma geração para outra, foi possível corrigir uma falha grave do projeto anterior: o porta-malas minúsculo. O antigo Territory levava 348 litros, apenas 20 l a mais que o Renault Sandero , pouco para um SUV médio. Agora, depois da mudança, são 448 l. Como parâmetro de comparação, o Compass leva só 410 l, enquanto o Commander entrega ótimos 661 l - sem o uso da terceira fileira. Além disso, a tampa pode ser acionada com o pé e também tem abertura que pode ser limitada a determinado ângulo, tecnologia que ajuda a impedir choques em tetos baixos, por exemplo.
DESEMPENHO E IMPRESSÕES
O motor 1.5 turbo a gasolina foi renovado e entrega 169 cv a 5.500 rpm e 25,5 kgfm de torque entre 1.500 e 3.500 giros . Já o câmbio é automático de dupla embreagem banhada a óleo e sete marchas. A tração é sempre dianteira. A versão antiga do propulsor da JMC operava no ciclo Atkinson, mais econômico, enquanto a nova segue o padrão Otto, o mais comum. Além disso, mudaram outros detalhes, exemplos do coletor de admissão de plástico - era de alumínio, menos eficiente -, comandos de válvulas e corrente, alterações que reduziram o peso em 4,5 kg. Antes, o quatro cilindros gerava 150 cv e 22,9 kgfm, ou seja, bem menos, e a transmissão era automática do tipo CVT.
Utilizar novamente um câmbio de dupla embreagem após os problemas do Powershift levantou questionamento na hora da apresentação do novo Territory, afinal, não seria problemático? "A nova transmissão é banhada em óleo, o que reduz o atrito e aumenta a resistência em comparação ao Powershift" , explica Ariane Campos, supervisora de engenharia da Ford América do Sul. O conjunto de dupla embreagem do Powershift era a seco, sem óleo.
Como em outros SUVs de marcas generalistas do segmento, o nível de rendimento não é esportivo. O negócio é oferecer torque suficiente para acelerar e retomar de maneira convincente, sem arrojo, mas sem falta de força. Basta acelerar para ele ganhar velocidade de maneira progressiva e rápida.
De acordo com a Ford, o conjunto leva o SUV de zero a 100 km/h em 10,3 segundos. Já o consumo é de 9,5 km/l na cidade e 11,8 km/l na estrada , ainda segundo a fabricante. O anterior fazia o mesmo em 11,8 s e não encantava pelo consumo, fazendo 9,4 km/l no ciclo urbano e 9,8 km/l no rodoviário.
Poderia ser mais rápido com o 1.8 turbo de 190 cv e 32,6 kgfm do Territory vendido na Argentina? Seria, mas a adoção encareceria o preço. A questão é que o Jeep Compass e Commander estão para receber o motor 2.0 turbo de 272 cv e 40,8 kgfm da Ram Rampage , no entanto, eles serão ainda mais caros.
Seria interessante poder trocar marchas de maneira sequencial, mas não há aletas e, somado a isso, o câmbio tem comando giratório. Há apenas os modos normal, eco, esportivo e serra/colina, que funcionam dentro do esperado para cada função. Para compensar, o mecanismo giratório e o freio de mão eletrônico abriram espaço para um grande porta-copos duplo que pode ser fechado por tampa, dando uma boa impressão de acabamento.
Macia ao manobrar, a direção elétrica é bem calibrada para baixas velocidades e ritmos urbanos. No ritmo mais forte da rodovia Castello Branco, ela mostrou-se suficientemente firme, sem destoar do esperado para um SUV médio voltado ao conforto. Não faltou um ajuste fino mais ocidental para deixar o Territory na mão, um toque que falta a alguns modelos chineses. Ele inclina um bocado em curvas e frenagens, mas isso é natural de um carro mais alto e pesado, nada de sensação de insegurança ou moleza. A engenharia nacional do fabricante participou de ajustes do projeto, o que ajudou e muito a adaptar a boa suspensão McPherson/multilink. As frenagens também são curtas e equilibradas.
O rodar é confortável, a Ford afirma que adotou amortecedores com stop hidráulico - mecanismo que evita que a roda caia com tudo em buracos e emita o som de uma tremenda pancada - apenas na dianteira, pois não foi detectada a necessidade de fazer o mesmo na traseira. Embora o percurso entre São Paulo e Itu, no interior do estado, tenha sido suficiente para dirigir por quase 100 km, o teste não foi tão longo e variado ao ponto de testarmos se a decisão foi acertada em várias situações, no entanto, não houve pancada da suspensão posterior durante o percurso. O conforto de rodagem não foi atrapalhado pelas rodas aro 19 ou pelos pneus 235/50 da Goodyear .
Itens como aviso de faixa e sensor de ponto cego funcionam à perfeição, e ainda há controle de cruzeiro adaptativo, tudo bem integrado.
ITENS DE SÉRIE E CONCLUSÃO
A lista de itens de série inclui ar-condicionado digital de duas zonas , controle de cruzeiro adaptativo, painel digital de 12,3 polegadas, central multimídia com tela de mesmo tamanho, conexão sem fio com Apple CarPlay e Android Auto , carregador de smartphone por indução, bancos dianteiros ventilados com ajustes elétricos para o motorista (dez posições) e carona (quatro opções), revestimentos de couro, teto solar panorâmico, retrovisor eletrocrômico, freio de serviço eletrônico com auto hold, tampa do porta-malas com abertura sem mãos e com ângulo ajustável e rodas de liga leve aro 19.
Na parte de segurança, há frenagem automática de emergência, aviso de colisão, câmera 360 graus, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, monitoramento de ponto cego e assistente de permanência e troca de faixa, além dos esperados seis airbags e controles de tração e de estabilidade - com hill holder.
Entretanto, o Territory poderia ter vindo com todos os itens de auxílio que a versão Limited conta em outros mercados, exemplo das Filipinas, onde oferece detecção de pedestres e assistente de estacionamento semiautônomo .
São seis opções de cores: azul metálico, vermelho Vermont, marrom Roma, preto Toronto, cinza Catar e branco Bariloche.
No final, a sensação é de que o Territory tem chances de conquistar um espaço que o anterior nunca conseguiu. Se o antigo SUV era uma versão reformada do Yusheng S330, o novo modelo está mais para Ford, o que o ajudará a conquistar outros países. Ser mais barato é apenas uma das qualidades.
Ficha técnica
Motor: 1.490 cm3, dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16 válvulas, turbo, injeção direta, 169 cv a 5.500 rpm, 25,5 kgfm de torque entre 1.500 e 3.500 rpm
Câmbio: automático de dupla embreagem e sete marchas, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson na dianteira e multilink na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira
Pneus: 235/50 R19
Peso: 1.700 kg
Dimensões: 4,63 metros de comprimento; 1,93 m de largura (sem espelhos) e 2,17 m (com espelhos); 1,70 m de altura; 2,72 m de distância entre-eixos; tanque de combustível de 60 litros; porta-malas de 448 litros