Historicamente, a Chevrolet utiliza a sigla RS para batizar versões que têm alterações visuais, mas que não apresentam incrementos mecânicos. E não é diferente no Brasil. Por aqui, a marca também se vale da denominação, uma opção que faz parte da vida do Onix , Tracker , Cruze e Equinox . A bola da vez é a Montana RS , picape média pequena que recebeu o sobrenome e passou a ocupar o papel da versão mais cara da gama, posto que era da Premier, sendo vendida por R$ 151.890, R$ 3 mil a mais do que a antiga top de linha.
É uma posição diferente da adotada pelos outros RS, pois eles, diferentemente da Montana, são baseados sobre configurações intermediárias. De acordo com os números divulgados pela Chevrolet, a estratégia faz sentido. A marca afirma que a divisão de vendas da picape é a seguinte: básica manual (5%), LT (10%), LTZ (35%) e Premier (50%). Concluindo, 85% das unidades vendidas são das duas versões mais caras, dado que serviu de encorajamento para esse posicionamento.
Vamos ao que mudou de fato: a aparência. A maioria dos pontos de estilo vieram do mesmo closet das demais configurações da picape. São eles: logotipos escurecidos, emblema RS na grade preto gloss e tampa traseira, detalhes em preto brilhante no interior e na grade, retrovisores, como também rodas diamantadas- são as mesmas da Premier, mas com outro acabamento. E também há espaço para um santoantônio integrado ao rack do teto, outra peça exclusiva do modelo RS. Por dentro, costuras vermelhas no volante, painel e bancos combinam, sendo que os últimos têm revestimento premium e apostam em tecido na parte dos ombros.
As impressões ao dirigir são as mesmas do primeiro contato que tive com a picape, afinal, não houve mudanças mecânicas ( leia as impressões ao dirigir completas ). O motor é o mesmo 1.2 turbo de três cilindros, 133/132 cv a 5.500 rpm e 21,4/19,4 kgfm de torque entre 2.000 e 4.500 rpm. O câmbio permanece sendo o automático de seis marchas.
Mudar o conjunto sairia muito caro e, convenhamos, que fabricante quer mais gastos na linha de produção? No entanto, não consigo deixar de lembrar do Hyundai Creta N Line , versão que também não traz alterações no trem de força, mas conta com ajustes diferentes de suspensão e de direção.
A aceleração de zero a 100 km/h não baixa a marca dos dez segundos, no entanto, os 10,1 s no cronômetro representam uma diferença mínima. O engajamento seria maior com borboletas para trocas, há apenas a possibilidade de passar a alavanca do câmbio para a posição low e selecionar marchas por ali.
O consumo com etanol não é incrível, são 7,7 km/l na cidade e 9,3 km/l na estrada, a grande vantagem vem com gasolina, combustível que melhora os números para 11,1 km/l e 13,3 km/l.
De qualquer forma, a Montana RS é equilibrada. O uso de eixo de torção traseiro não atrapalha nas curvas ou no conforto, sendo bem calibrado para pessoas e/ou carga. A direção fica mais acurada apenas em velocidades acima de 50 km/h, o que não é um demérito, pois o objetivo é ser leve em ritmo lento e/ou manobras. Lembrando que o diâmetro de giro dela é de 11,5 metros, contra amplos e incômodos 12,4 m da rival Fiat Toro .
Na volta do evento, foi possível viajar no banco traseiro. O deslocamento de alguns quilômetros foi suficiente para ter outra impressão do espaço interno. Eu tenho 1,84 m, ou seja, estou longe de ser padrão, e minhas pernas ficaram encostadas nos encostos à minha frente, sem ser, contudo, incômodo, ainda mais para quem é mais baixo. O que me incomodou mais foi o encosto mais vertical do banco traseiro.
Esse é um dos pontos que a diferenciam do Tracker . O que não quer dizer que uma picape desse tipo não mereça ser vista com desejo por quem deseja um SUV. Há suas vantagens, exemplo da caçamba. O espaço leva 874 litros de volume, contra 393 l do parente SUV, e também pode ficar isolado de infiltrações de chuva, tendo ainda um sistema opcional de organização de coisas.
Os 1.310 kg de peso vazio não representam um desafio para o 1.2 turbo, especialmente se houver duas pessoas a bordo. Com quatro adultos, a coisa começa a mudar de figura e o velocímetro começa a subir de 2 em 2 km/h, nada daquela esperteza. É algo esperado, pois é um carro familiar.
Além disso, a Fiat Toro tem motor 1.3 turbo de 185/180 cv e 27,5 kgfm, mas desperdiça a sua vantagem de potência e torque, uma vez que pesa 1.670 kg - olha que é um dado da versão Freedom, a mais básica e, com isso, a mais leve. Resultado: faz o zero a 100 km/h em 10,7 s. Só ganha na velocidade máxima, fazendo 201 km/h, face os 180 km/h da Montana (limitados eletronicamente).
No demais, é importante citar que a Montana RS traz ar-condicionado digital, faróis full LED, central multimídia de oito polegadas, sensor de estacionamento traseiro, câmera de ré, chave com abertura automática, partida por botão, carregador de smartphone sem fio, wi-fi e OnStar, sistema que permite comandar funções a distância, monitorar o carro, localizá-lo em caso de furto ou roubo, entre outros. Quanto à segurança, há sensores de ponto cego, seis airbags e controles de estabilidade e tração. Não há assistente automático de baliza, algo que está até no Onix Premier. Da mesma maneira, fazem falta salvaguardas mais sofisticadas, exemplos da frenagem automática e alerta/auxílio de permanência de faixa, coisas que hatches e sedãs compactos mais baratos já trazem.
Eu já havia concluído que a Montana é uma opção mais interessante do que a Fiat Strada , ocupando um nicho que poderia ter sido conquistado pela Renault Oroch , mas que foi ocupado pelo reinado da Toro, que custa R$ 146.990 na versão Endurance, a mais barata.
Se você optar pela picape da Chevrolet, talvez a RS seja a melhor opção, não pela exclusividade em termos de desempenho, mas pelo estilo esportivo. Ser e parecer são coisas distintas.
Ficha técnica
Motor: 1.199 cm3, dianteiro, transversal, três cilindros, 12 válvulas, turbo, injeção eletrônica, 133/132 cv a 5.500 rpm, 21,4/19,4 kgfm de torque entre 2.000 e 4.500 rpm
Câmbio: automático de seis marchas, tração dianteira
Direção: elétrica, com diâmetro de giro de 11,5 metros
Suspensão: McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira
Freios: discos ventilados na dianteira e tambores na traseira
Pneus: 215/55 R17
Dimensões: 4,71 metros de comprimento; 1,79 m de largura (sem espelhos); 1,66 m de altura; 2,80 m de distância entre-eixos; caçamba de 874 litros; peso de 1.310 kg, e capacidade de carga de 637 kg