Fabricantes de automóveis possuem, geralmente, representações em diversos mercados. Cada país ou mercado apresenta demandas específicas que nem sempre podem ser atendidas pelos produtos daquela marca. Então, como o que as fabricantes fazem?
Em vez de gastar milhões de dólares desenvolvendo um produto do zero , elas utilizam projetos já existentes, em um processo chamado de “ rebadging ”, que significa “ troca de emblema ” em uma tradução livre. O exemplo mais recente que temos é a Fiat Titano , que iniciou sua vida como um modelo Peugeot .
A Stellantis , dona de Fiat e Peugeot , é uma das mestres nessa arte do “rebadging” e a Titano é o exemplo mais recente. A picape iniciou sua vida como um projeto desenvolvido pela chinesa Changan e a PSA , que mantinham uma parceria no mercado chinês em meados de 2011.
A picape foi revelada em 2020 e é vendida como Peugeot em países da África, Chile e Uruguai , onde é fabricada junto da Titano . Os planos iniciais iriam envolver o mercado brasileiro , mas desde a criação da Stellantis, a estratégia foi modificada e a picape agora é vendida por aqui como Fiat, que possui uma tradição maior no segmento de picapes .
Como é tradicional em projetos de rebadging, pouco foi mudado em relação ao original . Visualmente, são exatamente os mesmos carros, mudando apenas os emblemas da Peugeot pelos da Fiat , as rodas e um novo desenho na grade. A novidade do mercado traz ainda um novo sistema na central multimídia, para se aproximar dos modelos da Fiat.
No Brasil, a estratégia não é inédita. As vans Fiat Ducato , Peugeot Boxer e Citroën Jumper são basicamente os mesmos carros. A parceria vem desde 1978, antes das três marcas pertencerem à Stellantis. Na época, as três fabricantes se uniram à Alfa Romeo , Lancia e Talbot para desenvolver veículos de cargas de dimensões compactas.
Mais recentemente, a Stellantis passou a vender a Fiat Fiorino como “ Peugeot Partner Rapid ” e a Fiat Scudo , uma versão “italiana” da Citroën Jumpy/Peugeot Expert. Na Europa, Opel , Vauxhall e até mesmo a Toyota , oferecem as vans pequenas da Peugeot e Citroën com suas marcas e um nome diferente .
Após o aporte financeiro da Fiat na Chrysler, iniciado em 2009, o mercado sul-americano viu diversos modelos “novos” surgirem. No Brasil, a Fiat passou a comercializar o Freemont , a sua versão do Dodge Journey . Na Venezuela, o nosso Siena passou a se chamar Dodge Forza , enquanto no México, o Grand Siena era o Dodge Vision . Os modelos contavam com o mesmo visual e motorização dos irmãos brasileiros.
Atualmente, a Fiat Strada é vendida no México, Chile, Peru, Colômbia, entre outros, como Ram 700 , enquanto a Fiorino é comercializada como Ram V700 Rapid . Além disso, em outros mercados sul-americanos é possível encontrar a Toro sendo oferecida como Ram 1000 .
A Stellantis não é a única fabricante a utilizar essa estratégia. Durante anos a General Motors utilizou esse artifício em seus modelos. Chevette , Kadett , Omega , Astra , Vectra e Corsa , todos iniciaram suas vidas como um modelo da Opel , braço europeu da General Motors, mas eram vendidos no Brasil como Chevrolet . Em outros mercados também foram chamados de diversos outros nomes e vendidos pelas marcas da General Motors nos respectivos países.
A Chevrolet também já teve uma parceria com a Suzuki . O nosso Celta já foi vendido na Argentina como Suzuki Fun , uma vez que a General Motors era representante da Suzuki no país argentino. A primeira geração do Chevrolet Tracker vendida no Brasil nada mais era do que um Suzuki Grand Vitara com os emblemas da gravatinha dourada.
Há ainda os casos de projeto conjunto, onde fabricantes se unem para desenvolver um carro em parceria, e cada marca vende o carro com seu nome. Recentemente, o Toyota GT-86 nasceu de uma parceria desse tipo, usando motor de origem Subaru e vendido também como Subaru BRZ ou até mesmo Scion FR-S.
Nos Estados Unidos essa prática é comum no segmento de luxo. A Chevrolet vende a Silverado , enquanto a GMC oferece a Sierra , as picapes apresentam poucas diferenças entre si, apenas visuais para justificar a diferença de uma marca para outra. Além disso, as picapes da GMC são mais caras que as da Chevrolet.
Entretanto, não é porque um modelo possui o mesmo visual ou até mesmo motorização do outro, que não exista uma engenharia no projeto
. Cada país possui suas peculiaridades, seja no gosto dos clientes, regulamentações, características de combustível, etc, e claro, os carros são adaptados para esses mercados. A própria Titano
foi flagrada em diversos testes durante o desenvolvimento
e não usa o mesmo motor que as versões uruguaias
e chilenas da picape.