A Renault ficou muito marcada nos últimos anos pelos modelos mais acessíveis à venda no país. Kwid , Sandero , Logan e até mesmo o Duster , foram parte de uma estratégia de aumentar a participação da marca no país oferecendo modelos mais em conta. Agora, a Renault está alterando sua rota no país. O plano Renaulution visa a criação de modelos de maior valor agregado , e é justamente o Kardian o responsável por iniciar a nova era .
Apesar de lançado só agora, o projeto do Kardian não é novidade. Ano passado, a marca promoveu uma visita ao complexo Ayrton Senna em São José dos Pinhais – PR justamente para demonstrar as mudanças feitas na fábrica para receber novos produtos e uma nova plataforma.
Essa nova plataforma é a Renault Global Modular Platform (RGMP), que segundo a fabricante, é uma estrutura inédita dentro do Grupo Renault . Foi justamente esse tema que fez muitos repórteres ficaram em dúvida, afinal, as primeiras informações sobre o Kardian diziam que ele seria baseado na CMF-B , a mesma do Sandero europeu .
Segundo a Renault , a nova plataforma não poderia ser anunciada, afinal, estava em desenvolvimento. O anúncio só aconteceu durante a revelação global do Kardian e do International Game Plan 2027 , no ano passado, no Rio de Janeiro .
A nova estrutura irá permitir carros do segmento B , C e comerciais leves , podendo contar com quatro medidas de entre-eixos diferentes, além de três opções de seção traseira . Além de estrear a nova plataforma, o Kardian contará com a menor variação possível pela base, que dará origem a um SUV do segmento C , já confirmado pela marca , e pode ser utilizada picape Niagara apresentada como carro conceito também no Rio de Janeiro.
Conjunto motriz inédito
Além da nova plataforma, o Kardian traz outras inovações na gama da Renault. A principal delas é o motor 1.0 turbo Tce de 125 cv e 220 Nm (22,4 kgfm) de torque. Apesar de ser novo, o motor é uma variação menor do propulsor 1.3 Turbo Tce , desenvolvido em parceria entre Renault e Daimler e já utilizado no Duster e Oroch . O novo motor compartilha cerca de 70% de peças com seu “irmão maior” e passou por 170 mil horas de desenvolvimento, além de 10 mil horas de validação .
A transmissão também é inédita. Batizada de DW23 , a caixa conta com duas embreagens banhadas em óleo e será uma novidade no segmento B-SUV . Assim como o motor, a Renault afirma que o câmbio também compartilha diversas peças com o DW30, utilizado por quase toda a gama Renault na Europa, equipando desde o Clio , passando pelo Austral e até os esportivos Megane RS e Alpine A110 .
Segundo a Renault, o câmbio CVT que já equipa os 1.3 turbo não foi utilizado no Kardian pois o foco do modelo é aliar eficiência energética ao prazer em dirigir . Os executivos da marca despistaram sobre versões com transmissão manual e até mesmo motor 1.6 aspirado , que atualmente equipa o Stepway . Por falar nele, o hatchback do segmento B será mantido em produção e a Renault acredita que eles possam sim conviver.
Outra novidade global na Renault trazida pelo Kardian é a manopla de câmbio “ e-shifter ”, do tipo Joystick , que após ser apresentada no SUV compacto brasileiro , já foi mostrada no Dacia Spring elétrico .
Visual inspirado em modelos europeus
Externamente, o Kardian já não é novidade. Obeservando o SUV ao vivo, o design destaca as luzes de posição em LED, conectadas por um filete cromado. O acabamento apresentado pela grade vai depender da versão escolhida, mas na opção topo de linha apresenta losangos, como se fossem esculpidos na peça.
Na lateral, o recorte no para-choque dianteiro lembra o exibido por Clio e Scenic na Europa, mas toda a seção é bem similar ao Dacia Sandero , principalmente a área envidraçada. O desenho na chapa das portas é diferente do primo romeno, mas os para-lamas traseiros mais largos e musculosos revelam o DNA.
A traseira traz lanternas em formato de C e com acabamento transparente mesclado com preto, o novo logotipo da Renault ao centro, a escrita Kardian e para-choques com muito plástico cinza, que dão ao SUV compacto essa atitude aventureira , com um acabamento prateado para passar um toque de requinte.
Internamente, o Kardian traz painel de instrumentos digital com 7 polegadas , freio de estacionamento eletrônico , carregador de smartphone por indução com resfriamento , multimídia de 8” e até sistema de iluminação na cabine .
Os bancos são de tecido em todas as versões , com a topo de linha, Première Edition, trazendo um padrão que em degradê, com o logotipo da Renault nas laterais. O acabamento é bonito e lembra os estofados vistos na Europa , porém, o consumidor desse tipo de carro, principalmente na versão topo de linha, já espera bancos de couro . Aliás, os rivais do Kardian , Fiat Pulse e Volkswagen Nivus , nas versões topo de linha já trazem essa opção de revestimento, enquanto no Renault , deverá ser item de concessionária.
A cabine é bem desenhada, e os acabamentos nas portas são em plástico rígido. A parte superior conta com um detalhe em preto brilhante e acabamento em couro sintético no apoio para os braços. O painel conta com muito plástico, mas mescla seções em couro sintético com costuras em laranja e detalhes em preto brilhante.
Com entre-eixos de 2,6 metros , o espaço traseiro é regular. Com 1,79 m de altura, consegui ficar bem posicionado atrás da minha posição de dirigir. O túnel traseiro é levemente elevado , mas existem duas saídas USB-C para recarga de dispositivos eletrônicos .
Vale destacar que o porta-malas do Kardian é de 358 litros , inferior ao de Nivus e Kicks , por exemplo. Oficialmente, o Pulse traz 370 litros, entretanto, a medição da Fiat é com litros de água, e não com blocos de espuma, como os demais fabricantes fazem.
Equipamentos de segurança
Em termos de segurança o Kardian oferece seis airbags , câmera de ré , controle de velocidade , controle de tração e estabilidade, monitor de pressão dos pneus e sensor de estacionamento traseiro . A versão Techno adiciona alerta de colisão frontal e frenagem automática de emergência , enquanto a Premiere Edition conta ainda com alerta de distância segura e de ponto cego , câmera multiview (360º), sensor de estacionamento dianteiro e controle de velocidade adaptativo .
Impressões ao volante
O teste durou cerca de 80 km, com a possibilidade de percorrer mais alguns km em estradas vicinais. No primeiro contato, apesar de rápido, podemos provar um pouco do novo Renault Kardian.
Logo ao entrar no Kardian, noto logo os espelhos com ajustes elétricos e amplitude de ajustes (manuais) para os bancos , assim como o acerto da coluna de direção, de altura e profundidade. Esses ajustes facilitam o Kardian para ser o único carro de uma família jovem , na faixa dos 35-45 anos, já que o modelo pode entregar uma posição de dirigir bem baixinha ou mais elevada, assim como um SUV maior.
É possível notar ainda a central multimídia de 8 polegadas e os controles do ar-condicionado digital (de série) , itens compartilhados com Duster e Oroch . Diferente dos irmãos maiores, a novidade ainda traz painel de instrumentos de 7” , que é bem simples.
Logo nos primeiros km a bordo do Kardian é possível notar o bom trabalho da Renault com o conjunto motor-câmbio . No pequeno trecho que fizemos, o conjunto se mostrou muito bem equalizado.
O propulsor capaz de gerar até 125/120 cv (E/G) e 22,4/20,4 kgfm de torque (E/G) possui uma entrega de potência e torque muito satisfatória em circuito urbano. Mesmo sem ativar o modo mais focado em economia, a transmissão se ajusta rapidamente às demandas. Com seis velocidades , o câmbio rapidamente está em terceira ou quarta marcha. As trocas não são “imperceptíveis” como em uma caixa cvt, mas não incomodam. Em uma condução um pouco mais veloz, as trocas ajudam a passar uma sensação de controle do motor do carro, com mudanças de marchas bem rápidas através das borboletas atrás do volante .
Um botão no centro do painel de instrumentos funciona como atalho para os ajustes dos três modos de condução do Renault Kardian . My Sense (personalizável), Eco e Sport . O modo eco é focado em economia de combustível e, além de exibir a cor verde no painel de instrumentos , muda a exibição do conta-giros na tela. A faixa “Eco” surge no painel para indicar a faixa de rotação que o condutor deve manter o motor se quiser uma condução mais eficiente.
O modo Sport muda o comportamento do Kardian. A resposta do acelerador fica mais veloz e a direção fica mais rígida , e a coloração vermelha passa a ser percebida na cabine. O modo My Sense permite a configuração da assistência da direção e da coloração dos leds espalhados pelo habitáculo. A aceleração do SUV de 0 a 100 km/h acontece em 9,9 segundos no etanol e 10,7 na gasolina .
Em termos de consumo , de acordo com o Inmetro, o modelo faz 13,1 km/l na cidade e 13,9 km/l na estrada , enquanto com etanol , as médias caem para 9 km/l e 9,7 km/l nos mesmos ciclos . Utilizando a medição em eficiência energética , o Kardian supera Pulse e Nivus , bem como no consumo urbano, mas consome mais que os rivais em uso rodoviário.
A suspensão dianteira é do tipo McPherson e conta com barra estabilizadora e braços oscilantes inferiores. O ajuste traseiro é semi-independente e conta com eixo de torção com barra estabilizadora. Esse conjunto aliado à nova plataforma se mostrou muito competente para realizar curvas em estradas vicinais.
O Renault Kardian aponta facilmente para as curvas e obedece rapidamente o comando dado pela direção, o ajuste específico do modo Sport deixa a direção 20% mais rígida, dando ao SUV uma pegada mais esportiva.
O Kardian é bem isolado acusticamente, mas será possível escutar o motor 1.0 turbo trabalhando . O sistema de escapamento é completamente em aço inox e emite um ruído interessante para quem escuta do exterior.
Manobrar o Kardian é bem fácil, afinal, o diâmetro de giro é bem curto, apenas 10,5 metros , o mesmo do Pulse e menor que o do Nivus. As quatro câmeras ao redor do carro facilitam ainda mais as manobras , entretanto, uma das unidades testadas apresentava certa lentidão para operar as câmeras, seja para o acionamento ou retorno ao sistema de navegação ou até mesmo para mudar a visão.
Conclusão
O Kardian é o primeiro de sete modelos desenvolvidos pela Renault com a ideia de serem carros globais . A novidade é bem competente, mas chega atrasado, até, em um segmento crescente da indústria nacional.
Com bom consumo de combustível
, câmera 360º
, ampla regulagens para os bancos, entre outros predicados, o novo SUV compacto da Renault
pode pecar em gostos individuais como central multimídia pequena
(os rivais trazem 10”).
Entretanto, aposta em 13 sistemas de auxílio à condução
, barras de teto funcionais e configuráveis
, além de um excelente equilíbrio dinâmico
para conquistar os clientes, bem como ar-condicionado digital de série
. Se dará certo, só o tempo vai dizer, mas o Kardian é um produto competente e tem todos os predicados para ter um bom volume de vendas.
Entretanto, é possível olhar o Kardian como o primeiro passo . A peça inicial e que irá mostrar aos clientes uma nova Renault , com foco em produtos com mais qualidade e modelos até “exclusivos”, deixando a necessidade de obter um elevado volume de vendas no passado.
Após o Kardian, virão ainda um SUV do segmento C
e provavelmente uma picape baseada no conceito Niagara, bem como novas motorizações eletrificadas
. O plano Renaulution
promete 7 lançamentos inéditos, com o Kardian e o SUV-C já confirmados para nosso país.
Ficha Técnica
Motor : 999 cm3 turbo, dianteiro, transversal, três cilindros, 12 válvulas, injeção direta, 125/120 cv de potência a 5.000 rpm (Etanol/Gasolina), 22,4 kgfm de torque a 2.250 rpm (etanol), 20,4 kgfm de torque a 2.000 rpm (gasolina), flex
Câmbio : automático de seis velocidades e dupla embreagem banhada a óleo
Direção : elétrica
Suspensão : McPherson na dianteira e eixo de torção com barra estabilizadora na traseira
Freios : discos ventilados na dianteira e tambor na traseira
Pneus : 205/60 R16 (Evolution) / 205/55 R17 (Techno e Premiere)
Dimensões
: 4,11 metros de comprimento; 1,74 m de largura; 1,59 m de altura; 2,60 m de distância entre-eixos; porta-malas de 358 litros; e tanque de 50 litros
Peso
: 1.166 kg (Evolution); 1.184 (Techno); 1.186 (Premiere)